Musk colocou em cima da mesa uma proposta de compra do Twitter por 44 mil milhões de dólares em abril, mas acabou por anunciar a intenção de retirar a oferta. No entanto, a administração do Twitter está determinada em obrigar o executivo a cumprir, avançou com uma queixa no tribunal de Delaware nesse sentido e já submeteu a proposta a aprovação dos investidores, com a maioria a concordar com a compra.
Elon Musk invocou inicialmente que o Twitter não estava a conseguir entregar números fiáveis no que toca a utilizadores ativos e contas de bots e de spam. O número de utilizadores é uma métrica importante para se aferir a rentabilidade do modelo de negócio e estar ‘misturado’ com contas fictícias, de spammers e de bots desvirtua o cálculo. No entanto, os responsáveis do Twitter defendem que já forneceram os números pedidos e que há uma margem de erro tolerável nessas contas e que Musk sabia disso antes de avançar com a oferta.
Mais recentemente, entrou em cena Peiter Zatko, responsável de segurança do Twitter entre novembro de 2020 e que foi despedido em janeiro deste ano, com denúncias bombásticas sobre o que viu no interior da empresa. “Deficiências extremas e egrégias no Twitter em cada área” do mandato, incluindo interferências de governos estrangeiros e um fraco controlo de acesso dos funcionários a dados dos utilizadores foram apontadas por Zatko. Musk foi autorizado pelo tribunal a usar o testemunho fornecido por Zatko na sua defesa. As declarações recolhidas pelos advogados de Musk começam por “estou aqui hoje porque a liderança do Twitter está a enganar o público, os legisladores, os reguladores e até o seu próprio conselho de administração. O que descobri quando me juntei ao Twitter é que esta empresa extremamente influenciadora está uma década atrasada no que toca a padrões de segurança”, afirma Zatko.
O The Guardian ouviu alguns especialistas que consideram que mesmo estas alegações não devem ser suficientes para Musk conseguir desistir do acordo. Brian Quinn, professor na Universidade de Boston, lembra que o Twitter já fez revelações vastas antes de o acordo ter sido anunciado, com várias conclusões sobre os riscos de segurança: “o testemunho recente não adiciona nada ao que já se sabia”. Já Howard Fischer, do escritório Moses Singer, realça que “o Twitter pode estar mal gerido, mas o desejo de lhe dar uma melhor administração é precisamente uma das razões invocadas por Musk para a comprar”. Este perito realça que a falha na contagem de contas de bots não deverá ser interpretada pelos tribunais como “material adverso”, com Anat Beck, da Universidade Case Western Reserve, a salientar que “a fasquia está muito elevada para se considerar fraude ou material adverso, não acho que estejamos lá a não ser que haja alguma coisa que ainda não foi tornada pública”.
Por fim, John Coffee, professor da Universidade de Columbia, destaca que quaisquer erros apontados por Zatko podem ser corrigidos pelo novo proprietário.
As sessões no tribunal de Delaware devem arrancar a 17 de outubro.