O evento “Next – Driving Tomorrow” marcou o final da terceira fase da iniciativa de Investigação e Desenvolvimento (I&D) criado em parceria pela Bosch e a Universidade do Minho. Uma colaboração que teve início em 2013. No Altice Fórum Braga foi possível ver demonstrações e explicações detalhadas de muitas ideias e sistemas que estão a ser desenvolvidas no âmbito da parceria. De acordo com dados revelados pela Bosch, mais de 750 pessoas contribuíram para os vários projetos de I&D. Além dos colaboradores da multinacional alemã, que tem uma fábrica e um centro de I&D em Braga, participaram, por parte da Universidade do Minho, “alunos, doutorandos, investigadores, engenheiros e professores”.
Até ao momento, terão sido investidos cerca de 150 milhões de euros nos projetos de I&D, que geraram mais de 70 patentes. Esta colaboração entre a academia e a indústria teve o apoio financeiro do Estado português.
Tecnologias variadas
São dezenas os projetos de I&D integrados na iniciativa e muitos foram demonstrados no evento. Um dos projetos em destaque foi o Programa Easy Ride, que desenvolve tecnologias de comunicação entre veículos, pessoas e infraestruturas. Como se trata de um conceito integrado, há várias tecnologias que são desenvolvidas no âmbito do programa. Por exemplo, foi desenvolvida uma caixa de comunicações V2X (entre veículo e todo o ecossistema) que integra todas as tecnologias de comunicações que poderão ser usadas, como redes móveis e Wi-Fi. Deste modo, os fabricantes de automóveis (e outros veículos) podem garantir a implementação de um sistema capaz de comunicar independentemente da tecnologia usada, já que ainda não é claro qual será o método preferencial para, por exemplo, garantir a comunicação automática entre veículos – o V2X é um dos sistemas considerados importantes para a condução autónoma porque permitirá aos veículos passarem informações entre si, como o posicionamento, estado da via ou até a identificação de peões e outros veículos que estão em risco de acidente. No local foram demonstradas aplicações práticas desta tecnologia, como a possibilidade de um carro estacionado usar a câmara para identificar a entrada de peões na via e avisar outros carros deste risco.
O Connected 2Wheelers é outro dos sistemas do programa Programa Easy Ride. Neste projeto são desenvolvidas tecnologias para apoio aos condutores de veículos de duas rodas que podem avisar o condutor de riscos, como carros que surgem de zonas sem visibilidade ou a aproximação de um obstáculo na via. A informação pode ser passada ao motociclista através de vibrações hápticas no blusão ou de imagens de realidade aumentada projetadas na viseira do capacete. A investigação usa um simulador para testar as diferentes formas de comunicação com o motociclista recorrendo a voluntários. Segundo os investigadores, deste modo será possível escolher o método de comunicação mais eficiente e menos intrusivo, já que o objetivo não é sobrecarregar o condutor com mais estímulos.
Sistema antináusea
O programa inclui, ainda, tecnologias de monitorização do comportamento dos utilizadores dos veículos, para evitar vandalismo ou identificar situações de emergência relacionadas com a saúde dos ocupantes. Soluções que poderão ser importantes quando os carros forem autónomos e em plataformas de partilhas de veículos.
Os investigadores de Braga até estão a estudar formas de reduzir a náusea dentro dos veículos através da medição de sinais biológicos de forma não invasiva e de métodos que levam o cérebro dos passageiros a perceber, antecipadamente e instintivamente, quais serão os próximos movimentos ou manobras. A ideia base é que os condutores tendem a sentir menos náuseas que os passageiros porque sabem, por exemplo, quais as próximas manobras e quando vão travar ou acelerar – este conhecimento leva a que o cérebro ‘não seja apanhado de surpresa’ com movimentos não esperados. Como tal, os investigadores querem que este conhecimento antecipado também esteja disponível para os passageiros, que serão todos os utilizadores de um veículo autónomo.
Um dos exemplos da comunicação é através de vibrações hápticas nos bancos. Por exemplo, se sentirmos uma ligeira vibração no lado a que corresponde à próxima mudança de direção, o nosso cérebro poderá aprender instintivamente a associar o estimulo ao comportamento do veículo. Em declarações à Exame Informática, Carlos Ribas, representante da Bosch em Portugal e administrador técnico da Bosch em Braga, garantiu que a empresa está interessada em continuar com a parceria e que “os resultados alcançados com as tecnologias desenvolvidas, o número de patentes registadas e a qualidade dos artigos científicos publicados consolidam a Bosch como estando na vanguarda da mobilidade do futuro e da transformação digital em Braga, e reforçam Portugal como um país de referência na inovação e no desenvolvimento da indústria automóvel”.