Há uma nova cadeia de lojas que está a chegar a Portugal. A Hubside.Store, que também é uma plataforma de criação de sites, não só vende produtos novos, como, sobretudo, gadgets recondicionados. Nestas lojas é ainda possível vender produtos usados e alugar em vez de comprar. A empresa originária de França conta investir, numa primeira fase, mais de 20 milhões de euros em Portugal. A primeira loja já abriu e várias outras já estão em fase de implementação em diferentes partes do país. Para conhecermos melhor os planos da Hubside.Store para o nosso país, entrevistámos Jean Pierre Galera, Diretor-Geral da Hubside.Store.
Qual é o investimento previsto para Portugal?
A prazo, vamos criar em Portugal cerca de 20 pontos de venda, o que representa um investimento, por loja, entre 500 mil a um milhão de euros em função da localização, dimensão e estrutura. Seguindo este raciocínio, podemos dizer que o nosso investimento mediato em Portugal ultrapassará os 20 milhões de euros, já que há que somar outros valores além do custo das infraestruturas.
Já foi decidido quando vão ser abertas as novas lojas?
Sim, absolutamente, visto que teremos nove pontos de venda abertos antes do final do ano em Portugal. Já abrimos a primeira loja no centro comercial Colombo, em Lisboa. Entre outubro e dezembro vamos abrir 7 a 8 pontos de vendas. Trata-se de localizações já escolhidas, já negociadas e que estão em fase de implementação. No primeiro trimestre de 2022, deveremos abrir mais 10 lojas em Portugal.
O que vos leva a investir na abertura das lojas físicas quando a tendência do mercado tem sido a migração para o online?
A primeira coisa a dizer é que que gostamos muito de fazer as coisas em contracorrente [risos]. Faz parte, um pouco, do ADN da empresa. Posso dar outro exemplo: temos, naturalmente, um grande serviço de call center para assistência aos nossos clientes por telefone. Mas, ao contrário do habitual, os agentes dos nossos call centers são colaboradores diretos da empresa e estão no país onde prestam o serviço. Ou seja, estão em França para clientes em França, em Espanha para clientes em Espanha ou em Portugal para clientes em Portugal. Em nenhum momento este suporte é feito por empresas externas. E muito menos a partir de países como Marrocos ou Senegal. Devemos ser das poucas empresas com esta política, mas valorizamos muito esta opção porque, para nós, garante o controlo total de qualidade e da comunicação. Respondendo especificamente a sua pergunta, continuamos a acreditar muito no comércio tradicional. Mas claro que estamos atentos ao digital, ao e-commerce. Pudemos ver claramente a progressão destas plataformas, em particular nos últimos meses, devido à crise de saúde. Vimos um desenvolvimento muito forte do e-commerce, mas também notámos que, a partir do momento em que as lojas reabriram, os consumidores voltaram às lojas e o comércio quase já voltou ao nível que tinha antes da crise de saúde. Existe uma necessidade real dos consumidores falarem com pessoas, verem e tocarem nos produtos.
Sem ser pretensiosos porque, obviamente, não nos queremos comparar, veja-se o que estão a fazer as maiores plataformas de comércio eletrónico, como a Alibaba e a Amazon. A Alibaba tem instalado as lojas físicas AliExpress e a Amazon está em processo de criação de redes de lojas nos Estados Unidos. Mostra que estas empresas, que são as maiores plataformas de comércio eletrónico, também compreenderam o limite do digital. E se eles estão a criar lojas tradicionais, isso significa que a nossa análise está certa. Depois, somos um operador de serviços e comercializamos produtos para a Web. Mas o serviço não é na Web. Porquê? Porque esses serviços precisam ser explicados aos clientes. Temos de estar cara a cara com o cliente para explicar o nosso serviço porque é intangível. Não podemos materializá-lo. Assim, desenhamos a Hubside.Store para que os clientes entendam melhor o conceito.
As vossas lojas permitem que os utilizadores possam experimentar os produtos? Que experiências diferenciadoras disponibilizam aos clientes?
Certamente. Quando um cliente visita uma das nossas lojas vai, de facto, encontrar universos diferentes. Vai encontrar o universo Hubside, que representa o nosso serviço de construção de sites. Como consumidor, pode construir os seus sites dentro de cada loja. Há todo um espaço dedicado ao aluguer, que é um novo serviço que criámos, que permite alugar todo o tipo de dispositivos conectados em vez de comprá-los. Também tentamos demonstrar todas as vantagens associadas a fazer o nosso seguro. O segundo grande eixo de diferenciação das nossas Hubside.Store é o facto de serem as primeiras na Europa e, pelo que sabemos, mesmo fora da Europa, que oferecem a comercialização de uma grande gama de produtos recondicionados em lojas físicas. Isto porque o mercado de produtos recondicionados está, essencialmente, em plataformas digitais como o Cidiscount ou o Back Market. Ninguém vendia produtos de grande consumo, em grande volume, no retalho. Essa é a grande inovação do conceito Hubside.Store porque estamos convencidos de que os consumidores, ainda mais para comprar produtos recondicionados e, portanto, em segunda mão, vão querer tocar e escolher seus produtos na loja ao invés de escolhê-los com base numa foto genérica a partir de um site. O que, no geral, resulta numa desilusão quando recebem o produto. O que propomos no nosso conceito Hubside.Store são três gamas de produtos recondicionados dos quatro principais fabricantes globais de smartphones, tablets, PCs e televisores. Assim, o consumidor pode fazer a sua escolha. Pode comparar o preço e o estado de cada um desses produtos, novos e recondicionados, e pode escolher produto que irá adquirir. Assim, não há surpresas.
Qual a proporção de vendas de produtos recondicionados relativamente a novos?
Mais de 60 por cento dos produtos que vendemos são recondicionados e quase 40 por cento são novos.
E continua a haver espaço para o crescimento do mercado dos usados?
O mercado dos recondicionados na Europa é muito dinâmico. Representa uma tendência muito forte e um crescimento de dois dígitos a cada ano: pouco mais de 10% em smartphones e outros produtos multimédia, o que contrasta com a ausência de crescimento nas vendas dos novos. Em França, por exemplo, são vendidos cerca de 30 milhões de smartphones e hoje cerca de 3 milhões são recondicionados. Na Europa, o mercado é de cerca de 300 milhões de smartphones e o mercado dos recondicionados representa cerca de 30 milhões. O que significa que hoje existe, obviamente, uma tendência muito forte dos consumidores em recorrer a produtos em segunda mão, de ocasião, por razões de ecologia, economia e consumo responsável. Portanto, há muito apetite por esse tipo de produto por uma série de razões. Já é um mercado importante, mas a procura é ainda maior que a oferta, o que significa que há espaço para continuar a crescer.
Que tipo de garantias disponibilizam para os produtos usados?
Essa é outra questão muito importante porque está associada a um dos grandes problemas do mercado dos usados. É fundamental que os produtos recondicionados tenham qualidade. O grande problema dos recondicionados está na cadeia de fornecimento. Todas as plataformas que comercializam recondicionados compram em lotes de grossistas, de mercados muito grandes, que são os Estados Unidos, com 300 milhões de computadores portáteis, ou a Ásia, um mercado ainda maior. Portanto, quanto mais vendas de novos houver, mais usados existirão, o que faz baixar o preço. É por isto que as grandes plataformas de usados vão comprá-los todos nesses países e repatriá-los para a Europa, depois de passarem pela China onde são recondicionados. Porque é mais barato recondicioná-los na China com componentes locais e não com componentes originais do fabricante. O que resulta em produtos medíocres e cria uma má experiência para o utilizador, funcionado como um travão para desenvolvimento deste tipo de mercado. E é por tudo isto que comercializamos os recondicionados no retalho, cara a cara com o cliente, para aumentar a confiança e melhorar a experiência. Outra característica importante do nosso método de trabalho é que os nossos produtos são produtos recolhidos em França, para França, em Portugal, para Portugal, em Espanha, para Espanha… Produtos que são recondicionados pelas nossas próprias equipas, uma vez que temos uma organização interna de quase 100 pessoas para recondicionarem os produtos com componentes originais. Produtos que garantimos durante 24 meses, ou seja, com a mesma garantia dos produtos novos. Porque sabemos de onde veio o produto e quem o recondicionou. É por isto que a qualidade dos nossos produtos não tem absolutamente nada a ver com a qualidade dos produtos que são comercializados nas plataformas web.
Mas essa operação não leva a uma perda de competitividade no preço?
Temos preços ao nível do que se encontra nos mercados web indicados e até mais baixos. Não somos mágicos e, por isso, vou tentar explicar como conseguimos ser competitivos. O nosso grupo iniciou a atividade há 15 anos como corretor de seguros especializados para smartphones. Em 15 anos, conseguimos entre sete e oito milhões de clientes na Europa, que seguraram smartphones, tablets e PCs connosco. Pode imaginar que administramos a cadeia de A a Z, incluindo a gestão de sinistros. Quando um dos nossos clientes parte o ecrã de um smartphone, recebemos o smartphone partido. É por isso que há 15 anos, antes mesmo de existirem os recondicionados, já consertávamos smartphones. Só que a substituição desses smartphones é suportada pela seguradora, que é nossa parceira. Por sermos corretores, não fazemos os seguros diretamente. Então, tínhamos de fazer o descarte adequado dos produtos, pagando a empresas para o efeito. E dissemos para nós mesmos: temos uma grande riqueza nessas latas de lixo e que, com três iPhones estragados, poderíamos fazer um que ainda pudesse ter uma vida útil com componentes originais. Foi assim que surgiu a ideia da nossa Hubside.Store, para comercializar os nossos serviços, mas também para dar nova vida aos produtos danificados, que recebemos dos nossos clientes segurados.
É por isto que resolvemos o problema do fornecimento e não precisamos de comprar lotes nos Estados Unidos ou na China, como fazem os outros. Outro ponto importante é que, desde que abrimos a Hubside.Store, a primeira coisa que propomos ao cliente é a recompra do seu smartphone. Os nossos clientes nem precisam de comprar um outro produto nas nossas lojas para terem direito a esta proposta. São smartphones que vamos recondicionar e recolocar no mercado, ajudando na economia circular. Deste modo conseguimos ser autónomos no abastecimento e, simultaneamente, pagar mais pelos usados dos nossos clientes.