“Imaginem que existe uma proposta do governo para colocar uma câmara de vídeo no centro de cada sala de estar do país, ligada à Internet, que pode ser usada sempre que estiver a ser investigado um crime (…) Julgo que as pessoas vão ficar horrorizadas com esta proposta, porque têm um entendimento prévio de quão mau seria. E mesmo assim, sinto que as pessoas podem fazer propostas idênticas para o mundo digital” descreve Will Cathcart, responsável pela WhatsApp. O executivo descreve as práticas governamentais contra a encriptação da plataforma como sendo Orwellianas, no lançamento de uma campanha de defesa da privacidade dos utilizadores.
A reação surge depois de o público se ter ‘revoltado’ contra as alterações nas políticas de privacidade do WhatsApp sobre a partilha de dados, alterações essas que tiveram de ser adiadas e num período em que os registos em plataformas rivais como Telegram ou Signal aumentaram exponencialmente. Segundo Cathcart, estas reações do público mostram que há um desejo de encriptação ponto-a-ponto, de forma que ninguém possa intercetar as mensagens, revela o The Guardian.
O WhatsApp pretende, com esta campanha, mostrar os benefícios deste tipo de encriptação para todos os utilizadores, lembrando ainda que ninguém terá acesso às mensagens trocadas na plataforma, nem mesmo a própria empresa. No entanto, forças das autoridades e governamentais consideram que este tipo de proteção traz um obstáculo acrescido, nomeadamente na investigação de potenciais atividades criminosas.
Priti Patel, Secretária de Administração Interna do Reino Unido, lembra o dever moral que as empresas de redes sociais têm para com a proteção das crianças dos abusos das plataformas e considera que a encriptação ponto-a-ponto vai ser um obstáculo para as autoridades lidarem com este abuso e com os terroristas que procuram infligir o máximo de perigo para o público.
Will Cathcart, por sua vez, lembra que são banidas 300 mil contas por mês suspeitas de partilharem imagens de abusos sexuais e que são reportadas mais de 400 mil pistas por ano para as autoridades de defesa das crianças nos EUA, com base em informações como o endereço IP, as imagens de perfil e denúncias de utilizadores.
A empresa, detida pela Facebook, vai lançar uma campanha publicitária multimédia, com anúncios de rádio, TV e painéis na Alemanha e Reino Unido durante 15 semanas, com o objetivo de chegar a 80 a 90% da população para relembrar os benefícios da privacidade dos utilizadores.