No meio tecnológico e empresarial, há uma frase muito repetida, mas que poucos interiorizaram: “Quando não se paga nada pelo serviço, é porque o serviço somos nós”. Quer isto dizer que o cerne do negócios de redes sociais e apps gratuitas está na recolha de dados dos seus utilizadores. Os gostos e os desgostos de quem usa uma rede social, as suas pesquisas e preferências, a sua interação com marcas, tudo é motivo de negócio – e tais informações são uma verdadeira mina de ouro para quem lida com a big data. Seja para vender detergentes; seja para manipular politicamente um conjunto de eleitores.
A compra do WhatsApp pelo Facebook, em 2014, fazia adivinhar o estreitamento da relação entre as duas redes sociais. Entretanto, o Facebook anunciou que iria rever os Termos e Condições do WhatsApp no que diz respeito à sua política de privacidade. Se é daqueles que nunca lê esses extensos textos, talvez esteja na hora de começar.
A contestação foi tanta pelo receio de partilha de mais dados ou até de conteúdos de mensagens entre o WhatsApp e o Facebook, que milhares de utilizadores migraram para outros serviços de mensagens como o Signal ou o Telegram. O primeiro também encripta as mensagens ponto a ponto, ou seja, só os utilizadores (emissor e recetor) têm acesso ao seu conteúdo. Como acontecia no WhatsApp. Já o Telegram não traz esta funcionalidade por defeito, pelo que é necessário ativá-la na app.
Para tentar estancar a sangria de clientes, o Facebook adiou para 15 de maio a introdução dos novos Termos e Condições. E tem insistido na explicação de que a partilha de informações não passará pelos conteúdos das mensagens, mas pela partilha de meta-dados do WhatsApp sempre que um utilizador comunique com serviços comerciais ou com um negócio. O reforço de publicidade direcionada e personalizada é um dos grandes objetivos.
Mas quem acredita na palavra dada pelo Facebook? Ou não fosse esta rede social a protagonista de um dos maiores escândalos de partilha de dados (com a consultora política Cambridge Analytica). Há todo um mundo de investigação por explorar no que diz respeito à manipulação da opinião pública pelas redes sociais.
Chegou o dia 15 de maio. E agora?
Se, até agora, os utilizadores do WhatsApp têm podido ignorar a revisão da política de privacidade, atirando-a para a tecla do “mais tarde”, a partir do próximo sábado, 15 de maio, isso não vai mais ser possível de fazer. Nesse dia, a aplicação vai começar por desativar funcionalidades até que o utilizador aceite os novos Termos e Condições. A pergunta sobre se aceita ou não os mesmos estará visível no ecrã de forma permanente.
As primeiras funcionalidades a desaparecer não serão o envio de mensagens escritas ou os telefonemas. No entanto, também estes serviços primordiais do WhatsApp serão afetados ao fim de algumas semanas. “Depois de poucas semanas de funcionalidades limitadas, você deixará de receber chamadas ou notificações, bem como enviar mensagens e fazer chamadas”, explica a empresa mãe, o Facebook.
A certo ponto não haverá volta a dar: ou aceita a nova política de privacidade ou será melhor virar-se para outras aplicações semelhantes. É o mercado a funcionar ao estilo de Golias contra David.