Eugene Kaspersky, ex-operacional do KGB, especialista em cibersegurança e provavelmente o CEO de uma produtora de antivirus com maior bonomia no Globo, voltou aos títulos de jornais por motivos menos honrosos: de acordo com a Reuters, o líder da Kaspersky terá instado os colaboradores da conhecida empresa de segurança eletrónica a lançarem campanhas de sabotagem contra a rival AVG, que foi fundada na República Checa.
Num dos e-mails que a Reuters cita como prova dos intentos do empresário russo, Eugene Kaspersky terá mesmo parafraseado o presidente russo Vladimir Putin quando exigiu, na década passada, uma perseguição sem tréguas contra os rebeldes chechenos. A mesma Reuters refere, com base nos e-mails que remontam a 2009, que Kaspersky teria a intenção de sabotar marcas concorrentes com a disseminação de ficheiros que seriam inofensivos, mas levariam os antivírus rivais a detetarem falsos positivos, que poderiam prejudicar o desempenho das aplicações de segurança ou levar mesmo à eliminação de ficheiros importantes para os utilizadores.
A alegada campanha de sabotagem, que terá começado a ser denunciada na sequência de uma investigação junto de dois ex-profissionais da Kaspersky, não teria como único alvo a AVG, mas alguns e-mails agora revelados (e já desmentidos pela marca russa) dão a conhecer um certo ressentimento de Eugene Kaspersky para com a marca romena. Em causa estará não só a auspiciosa faturação da AVG, mas também o “desvio” de gestores e peritos que trabalhavam para a Kaspersky.
Além de acusar a AVG de ter levado a cabo um ataque aos recursos humanos da Kasperky, um dos e-mails alegadamente escritos pelo fundador da companhia denota uma ponta de inveja: «Para ser honesto, sinto-me mal quando a AVG vai para a bolsa e ganha mil milhões. Eles não nos vão agradecer – nem fiquem à espera disso», refere um dos e-mails citados pela Reuters.
Apesar das menções ao desejo de eliminação da AVG através de vários métodos e dos e-mails que alegadamente Eugene Kaspersky terá enviado para os subordinados, não fica provado que a empresa russa terá mesmo lançado campanhas de sabotagem contra a concorrência – e, se essas campanhas, a terem existido, realmente produziram algum efeito.
A Kaspersky já reagiu ao “caso”, lembrando que os e-mails em causa poderão não ser legítimos e admitindo que haja quem tenha uma agenda escondida e que pretenda denegrir a marca de antivírus com a revelação dos alegados e-mails.
«A Kaspersky nunca conduziu qualquer campnha secreta para enganar os concorrentes gerando falsos positivos e prejudicar a sua posição no mercado. Essas ações não são éticas, e são desonestas e ilegais», defendeu a empresa russa.