As crevasses são fendas que se verificam nos glaciares onde o gelo começa a fluir mais rapidamente. Agora, um estudo conduzido por Thomas Chudley, especialista da Universidade de Durham, mostra que estas fendas estão a abrir-se mais rapidamente do que se sabia nos glaciares da Gronelândia. O cientista explica que a água proveniente da neve derretida da superfície dos glaciares está a fluir para a base do gelo e a juntar-se a outros fluxos, criando um vasto sistema de drenagem que está a acelerar o derretimento.
Um volume entre 50% e 90% da água que flui naquela região fá-lo através das crevasses e tem a capacidade de aquecer porções submersas do glaciar e aumentar a lubrificação entre estas porções e o leito de rocha onde o glaciar assenta. “Perceber as crevasses é fundamental para percebermos como estas descargas vão evoluir no século XXI e mais para a frente”, descreve Chudley, citado pelo ArsTechnica.
No manto de gelo da Gronelândia, “os glaciares estão a acelerar em resposta às temperaturas mais quentes do oceano e porque a água derretida está a encher as crevasses, pode forçar fraturas mais profundas no gelo. No entanto, até agora não tínhamos dados para mostrar onde e quão rápido isto estava a acontecer”. A equipa usou imagens tridimensionais das fendas para calcular com maior precisão o volume até à data e registaram que as fendas se alargaram entre 2016 e 2021.
Os cientistas constataram que, além da velocidade do gelo à superfície e na base dos glaciares, têm de ser consideradas ainda as descargas dos icebergues, com massas a deslocar-se pelas fendas da superfície para a base. Calcular o total anual descarregado requer cálculos complexos sobre diferentes variáveis, com Xavier Fettweiss, professor que não esteve envolvido no estudo, a explicar que há modelos que mostram que há menos descargas diretas nos oceanos à medida que os glaciares se afastam da costa, levando à redução da contribuição do derretimento dos icebergues para a subida do nível da água. Ao mesmo tempo, o afastamento da costa pode acentuar as extremidades do manto de gelo e conduzir a fissuras cada vez maiores, num ciclo de feedback que pode acelerar a desintegração do manto de gelo da Gronelândia.
Um outro estudo de 2020 calcula que este manto de gelo perde cerca de nove mil milhões de toneladas de água por hora e que o derretimento completo pode aumentar o nível dos mares em catastróficos sete metros. O derretimento integral só deve acontecer daqui a milhares de anos, mas, com os cálculos de Chudley, essa situação pode vir a acontecer mais rápido do que o antecipado. Ao ritmo atual, o degelo da Gronelândia pode conduzir a uma subida do nível do mar de um metro até ao ano de 2100.