Faz dez anos a 4 de julho que numa conferência de imprensa, transmitida a partir da Suíça para todo o mundo, um grupo de emocionados físicos de partículas apresentavam ao mundo as primeiras provas experimentais da existência do bosão de Higgs. Tardaram 50 anos até que a dita ‘partícula de Deus’, a que confere massa a todas as outras, a que dá substância à existência, prevista por Peter Higgs, tivesse sido detetada no CERN. Em dois registos diferentes, nas experiências ATLAS e CMS, lá estava a assinatura de uma nova partícula elementar, na gama energética prevista pelo Modelo Padrão, o tal que descreve a matéria e as relações entre as partículas que a compõem.
O Nobel da Física veio logo no ano a seguir – para o próprio Peter Higgs, inglês, e o parceiro de trabalho, o belga François Englert – e nesta última década outras experiências têm vindo a acrescentar detalhes às propriedades do bosão, permitindo descortinar alguns dos principais mistérios da atualidade científica, como é o caso da matéria e da energia escura.
Há, portanto, muito a celebrar na próxima segunda-feira, 4. E como é que os físicos celebram um evento histórico? Com conferências científicas, pois claro! É o que acontecerá, durante todo o dia, nas instalações do CERN, próximo de Genebra, mas com transmissão em direto.
No dia seguinte, terça-feira, 5, iniciar-se-á a terceira fase de operações do LHC, o maior acelerador de partículas do mundo, com as primeiras colisões de muito alta energia após uma paragem programada, mas prolongada por causa da pandemia. Em 2018 deixaram de circular feixes de protões pelo túnel subterrâneo, com 27 quilómetros de comprimento, por baixo de território francês e suíço. Em abril deste ano, recomeçou a atividade, numa espécie de soft opening, que mesmo assim já se mostrou produtiva. E agora, após a data histórica, inicia-se a fase mais energética de sempre, uns esperados 13,6 TeV (o valor máximo até agora não chegava aos 7 TeV). Nuno Castro, físico e investigador da Escola de Ciências da Universidade do Minho e do LIP – Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas – estará de regresso ao CERN, após uma interrupção de mais de dois anos, para fazer parte dos dois eventos. “Correndo tudo bem, os primeiros dados utilizáveis serão obtidos na terça, 5. Depois segue-se um processo de acumular de dados e, em paralelo, de análise dos mesmos”, antecipa. “Claro que pode haver surpresas, mas o normal é levar alguns meses até termos os primeiros resultados – e teremos novos resultados durante anos, à semelhança do anterior período de operação.”
Para esta nova fase, a de maior energia até hoje, espera-se que surjam novas pistas que possam ajudar a perceber o que são afinal as partículas invisíveis, e indetetáveis até agora, que compõem a matéria negra.