Um matemático gosta de papel, lápis e borracha. Mas também de computadores e plataformas de ajuda ao cálculo, esclarece, logo para início de conversa, o professor na Universidade Nova e atual presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM), João Araújo. Um caderno limpo e organizado é o ponto de partida essencial na relação com os números. “A Matemática é um processo de pensamento que tem de ser treinado”, resume o professor universitário. Estabelecido este ponto, é vantajoso acrescentar elementos tecnológicos à aprendizagem. “Há muitos estudos internacionais que já demonstraram o benefício de incluir ferramentas computacionais ao ensino da Matemática”, diz.
Em Portugal, a Samsung juntou-se à Associação Portuguesa de Famílias Numerosas e à plataforma de aprendizagem interativa Mathema TIC para, com supervisão da SPM, analisar o impacto da tecnologia no desempenho escolar da disciplina. A experiência consistiu em incluir 35 alunos do 7º ano de escolaridade numa turma virtual da Mathema TIC. Durante oito semanas, os alunos foram acompanhados por um tutor que assegurou a orientação na resolução de exercícios de matemática propostos, mediante um programa definido e alinhado com os conteúdos curriculares. No final, os alunos foram submetidos a uma avaliação de forma a apurar o impacto da tecnologia no processo educativo, bem como no seu aproveitamento na disciplina de Matemática. Os resultados obtidos com o grupo de teste foram comparados com um grupo de controlo independente daquela turma, de modo a identificar as principais diferenças no processo de aprendizagem. O Grupo de Experiência contou com um conjunto de 35 alunos que realizaram duas avaliações: um teste diagnóstico, no início da experiência, e um teste final, realizado no fim do período de aprendizagem. Em paralelo, foram analisados os resultados obtidos nas mesmas provas por um grupo de controlo, composto por 66 alunos que, por sua vez, não fizeram os exercícios da plataforma.
Estas plataformas enviam um relatório, individualizado, para o professor, pais ou até outros alunos. O que permite diagnosticar as falhas no fim de cada matéria”
João Araújo
Após as oito semanas do Laboratório de Matemática, verificou-se uma melhoria de 27% na média dos resultados nos testes realizados pelos alunos que integraram a experiência, face ao grupo de controlo, o que vem ao encontro dos resultados conseguidos em intervenções semelhantes. A grande vantagem deste género de plataformas é aquilo a que os estudiosos da educação chamam de “intervenção com feedback preventivo”, em que os exercícios feitos nas plataformas servem para treinar, mas também para diagnosticar as falhas na aprendizagem. Perante os resultados, o programa, com a ajuda do professor ou dos pais, sugere exercícios da temática que ainda não está dominada. No método tradicional, do teste escrito, o método é classificado como “punitivo”, limitando-se à sinalização das respostas erradas. “Estas plataformas enviam um relatório, individualizado, para o professor, pais ou até outros alunos. O que permite diagnosticar as falhas no fim de cada matéria”, descreve.
Favorável ao “ensino assistido por computador”, João Araújo refere que mesmo os jogos podem ser úteis à aprendizagem. “A gamificação, em jogos por níveis ou pontos, também é positiva. Têm sido feitas experiências por todo o mundo, com bons resultados”, sustenta.
Quer os alunos que participaram no Laboratório de Matemática, quer os pais, também se mostraram entusiasmados e satisfeitos com a experiência.
