Neste caso, a pandemia até veio ajudar. Quando Rui Maranhão, do Departamento de Informática da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), se propôs a organizar um ciclo de conferências sobre computação quântica encontrou quase toda a gente em casa e uma grande disponibilidade por parte dos professores e investigadores desta área para participar no ciclo QC Talks. Disponíveis online, as conferências, que reúnem os melhores do mundo nesta área, têm atraído cada vez mais pessoas – sendo já mais de 600 na última sessão – e irão cobrir praticamente todos os aspetos relacionados com a computação do futuro. “Para sabermos onde estamos e para onde queremos ir”, observa o organizador.
A expectativa relativamente à computação quântica só é superada pelos desafios que a área ainda enfrenta. Rui Maranhão, em particular, está concentrado em antecipar o tipo de software que poderá ser usado nestas máquinas do futuro. “Num computador quântico temos muitas coisas a acontecer em paralelo. Mas os algoritmos ainda são muito sequenciais”, nota. Na FEUP, em particular no Centro de Investigação em Computação Quântica, tenta-se antecipar esta mudança de paradigma. “As máquinas de computação quântica já existem, mas com muitos erros. Não são determinísticas. A cada mil cálculos erram 900. Num computador normal, a cada mil erra um”. O professor compara o estado atual da computação quântica aos primórdios dos computadores, a pré-histórica ‘fase dos cartões’. “Programamos ao nível dos qubits. Para chegar a mais pessoas, é preciso que haja um certo nível de abstração que permita às pessoas começar a programar os seus algoritmos”, nota.
Ao invés dos computadores chamados “clássicos”, que manipulam biliões de dados na forma de “bits” (binary digits – com valores lógicos exclusivamente de 0 ou 1), os computadores quânticos usam qubits, ou bits quânticos. Estes qubits representam valores probabilísticos entre zero e um e simultaneamente enquanto decorre a computação. Os qubits “conversam” entre si durante a computação usando regras da mecânica quântica, com conceitos como “interferência quântica” e sobreposição, por exemplo, explica-se na página do evento. “O computador quântico está a executar tudo ao mesmo tempo.” E é precisamente daí, deste emaranhado de possibilidades, que vem o enorme poder computacional desta nova era de computadores, deste número muito elevado de possíveis “configurações” ou “estados”, em termos probabilísticos, com um número muito mais reduzido de qubits relativamente ao mesmo número de “bits” de um computador “clássico”, para o mesmo número de “estados”.
“Os algoritmos ainda são muito sequenciais. O que estamos a tentar fazer, num projeto europeu que submetemos, é tentar antecipar de que forma o paradigma vai mudar.” Para que quando os físicos tiverem os desafios da construção das máquinas resolvidos – daqui a dez ou quinze anos, nas contas de Rui Maranhão – os informáticos estejam prontos a programar.