Em primeiro lugar, um aviso: se ainda não viu o excelente filme Her, de Spike Jonze, não continue a ler. Esta notícia contém “spoilers” sobre a trama.
Feito o aviso necessário, o futurista Ray Kurzweil tem uma entrada no seu blogue onde fala do filme Her, da tecnologia de Inteligência Artificial (IA) apresentada e de outras mencionadas no filme. Segundo o autor, que se juntou à Google em 2012 para trabalhar em processamento de voz e “aprendizagem de máquina”, o nível de inteligência demonstrado por Samantha deverá ser uma realidade daqui a 15 anos, em 2029. Outras tecnologias, todavia, como a câmara miniatura do tamanho de um botão ou as personagens de videojogos que aparentam ter personalidade, deverão ser norma no final desta década.
Mas o cientista faz também algumas críticas pragmáticas, indicando que há incongruências relativamente às tecnologias apresentadas. Uma delas é o facto de não haver qualquer forma de Samantha interagir fisicamente com Theodore. Neste momento já existem tecnologias para providenciar estímulos táteis pelo que seria trivial providenciar o mesmo tipo de mecanismo a Samantha para que esta IA pudesse interagir com Theodore.
Kurzwell também julga que é irrealista a velocidade a que as IA “evoluem”, acabando por “partir” dos computadores onde foram instaladas. O cientista julga que as IA vão provavelmente avançar as suas capacidades de uma forma semelhante ao que acontece com o número de transístores num processador, “praticamente duplicando de capacidade a cada ano” e não à velocidade muito superior mostrada no filme.
Kurzwell considera que os avanços na Inteligência Artificial não serão necessariamente sinónimos de confrontos inevitáveis entre o Homem e a Máquina. Do seu ponto de vista, a humanidade não vai ficar para trás em termos cognitivos porque continuaremos a melhorar-nos recorrendo a IA, tal como já acontece hoje.
O cientista exemplifica: “Apesar de a maioria dos computadores – não todos – ainda não estarem fisicamente dentro de nós, considero isto uma distinção arbitrária. Já estão [os computadores] a imiscuir-se nos nossos ouvidos e olhos e alguns, como implantes de Parkinson, já estão ligados ao nosso cérebro. Um miúdo em África com um smartphone tem acesso instantâneo a mais conhecimento do que o Presidente dos Estados Unidos tinha há apenas 15 anos”