O termo arqueologia remete-nos para estudos em terra, mas uma equipa da Universidade de Chapman, Califórnia, aplicou técnicas arqueológicas para estudar como a microssociedade de astronautas a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) se adaptou e mudou com o passar do tempo. Este é o primeiro estudo arqueológico a ser realizado no Espaço e pretende perceber como os 270 habitantes que já passaram por lá o modificaram.
Os investigadores selecionaram seis localizações na ISS e pediram aos astronautas a bordo para tirarem uma fotografia por dia de cada local, durante dois meses em 2022. O estudo agora publicado na revista científica PLOS One incide sobre duas localizações completamente documentadas: um espaço destinado a manutenção de equipamentos e outro perto do local de exercício e sanitários para os astronautas.
Os arqueólogos espaciais usaram técnicas de análise de imagens e catalogaram mais de 5400 ‘artefactos’ usados para diferentes necessidades, desde notas em post-it, luvas, headsets, ferramentas e marcadores. De seguida, analisaram as fotografias para perceber como a atividade dos astronautas dependia desses objetos e que uso lhes estava a ser dado, com o intuito de perceber se estavam a ser aplicados de acordo com as suas designações e objetivos finais.
“Em primeiro lugar, mesmo num local pequeno e fechado, ocupado por apenas algumas pessoas e durante um período de tempo relativamente curto, podemos observar padrões divergentes, em locais diferentes e fases de atividade distintas. Em segundo lugar, embora as funções distintas sejam aparentes para estes dois locais, não são funções que esperássemos antes deste estudo”, concluem os investigadores, citados pelo website Popular Science.
A equipa conclui que, mesmo no espaço, os locais não estavam a ser usados para os seus fins originalmente projetados, como espaço de manutenção a ser usado também como local de armazenamento e o espaço de exercício físico a nunca ter sido usado para o efeito.
Um dos astronautas, cujo nome não foi revelado, conta que “éramos uma tripulação muito organizada e que estava alinhada sobre como fazer as coisas. Com o passar do tempo… organizamos o laboratório e chegamos a um consenso sobre onde colocar as coisas e como iríamos fazer as atividades”. A equipa universitária conta que é habitual haver “utilização e mútuo acordo” e pretende usar estas conclusões para ajudar a planear melhor o uso dos diferentes locais em futuras missões de exploração espacial e planetária.