O evento GRB 21009A (de gamma-ray burst, ou erupção de raios gama) aconteceu a 9 de outubro e levou os astrónomos a treinar os seus aparelhos para observarem aquela parte do céu, para recolher dados da situação e posteriores. A comunidade continua a realizar observações e há a convicção de que este possa ser o “nascimento” de um buraco negro. Jillian Rastinejad, que estuda na Universidade de Northwestern, lidera um destes esforços de observação e conta que “no nosso grupo, chamamos-lhe BOAT, ou Brightest of All Time, porque quando olhamos para as milhares de erupções de raios gama que têm vindo a ser detetadas desde a década de 1990, esta destaca-se”.
Roberta Piller, estudante na Universidade Politécnica de Bari, conta que “esta erupção acontece muito mais perto do que as outras, o que é entusiasmante porque nos permite detetar muitos detalhes que de outra forma seriam demasiado ténues para vermos”.
As erupções deste tipo são explosões de elevada energia, registadas em galáxias distantes e com durações que podem ir dos poucos milissegundos até a várias horas. As primeiras foram detetadas na década de 1960 e os instrumentos têm vindo a ser aprimorados desde então para se conseguir detetar e capturar mais detalhes.
O ArsTechnica explica que há dois tipos de erupções destas: a maioria (70%) são longas e duram mais de dois segundos, deixando um brilho posterior e estão ligadas a galáxias com formações estelares rápidas. Estes feixes estão ligados, acreditam os astrónomos, às mortes de estrelas massivas que colapsam para formar uma estrela de neutrões ou um buraco negro, com estes a produzir jatos de partículas energéticas poderosas o suficiente para penetrar nos vestígios da estrela progenitora e emitindo raios-X e raios gama. O segundo tipo, cerca de 30% dos casos, são emitidas a partir de regiões com pouca formação de estrelas, duram menos de dois segundos e acredita-se que sejam resultado de fusões entre duas estrelas de neutrões ou de fusões de uma estrela destas com um buraco negro.
A GRB221009A teve origem na constelação Sagitta e viajou 1,9 mil milhões de anos para a Terra, com um dos instrumentos a revelar que é invulgarmente longa, com medições ao longo de dez horas. “A excecionalmente longa GRB 221009A é a erupção mais brilhante de que há registo e o seu brilho posterior está a esmagar todos os recordes, em todos os comprimentos de onda de luz”, afirma Brendan O’Connor, que também lidera uma outra equipa a estudar o fenómeno, continuando que “por ser tão brilhante e próximo, consideramos que é uma oportunidade única num século para endereçar algumas das questões fundamentais sobre estas explosões, desde a formação de buracos negros até aos testes de modelos de matéria negra”.