Quem gosta de tecnologia sabe que os carros elétricos têm uma longa história. Mais antiga do que o génio de Elon Musk e dos seus Tesla que vieram fazer frente aos incumbentes – percurso que tem algumas similaridades com aquele que a Apple, liderada por Steve Jobs, fez quando mostrou ao mundo o iPhone e empresas como a Nokia sorriram com desdém. Todos conhecem o resto da história.
No caso dos automóveis elétricos, também a Tesla foi piada momentânea para os principais fabricantes de automóveis. Ainda não sabemos o resto da história, mas a empresa de Musk fica na História – no compêndio do tempo – como o rastilho que causou a ignição da massificação dos automóveis elétricos. É a Tesla que prova que há modelo de negócio na mobilidade elétrica. Por isso, a empresa foi muito além dos automóveis: pensou o ecossistema por completo – carros, plataforma tecnológica, rede de carregamento. O ciclo fechou-se. Como a Apple, certo? Certo!
Acontecia esta revolução nos EUA quando em Portugal, em 2010, o Governo criava as condições para o desenvolvimento de uma rede de carregamento de veículos elétricos – o mesmo ano em que a Exame Informática distinguiu a, então criada, MOBI.E, a empresa que ficou responsável por materializar a intenção do legislador. O caminho foi lento e em 2015 a MOBI.E recebe, novamente, a responsabilidade de retomar o projeto e concretizar a rede piloto de carregamentos. Luís Barroso, presidente da MOBI.E, explica: «(…) nos últimos cinco anos a MOBI.E desempenhou o papel de Entidade Gestora (EGME), Operador, Comercializador, Promotor e Conselheiro, durante o que denominamos como período transitório. No fundo, fez um pouco de tudo para que hoje a mobilidade elétrica seja uma realidade em Portugal. Com a entrada na fase plena de mercado ocorrida a 1 de julho de 2020, a MOBI.E teve, naturalmente, de rever o seu posicionamento à luz do Regulamento de Mobilidade Elétrica focando a sua intervenção no mercado enquanto EGME, ao mesmo tempo que via reforçado o seu papel instrumento público, atuando como promotor do desenvolvimento da mobilidade sustentável.
Para satisfazer o cumprimento dos objetivos ambientais definidos pelo Governo de garantir até 2030, 40% de mobilidade elétrica e atingir a neutralidade carbónica em 2050, o caminho é fácil e único. Crescer!!!
Luís Barroso, presidente da MOBI.E
A filosofia do modelo Mobi.E é muito simples, procura dar a melhor experiência possível ao utilizador, assente em princípios gerais como a universalidade, a harmonização do custo e a não discriminação. Por outro lado, ao permitir o acesso a toda a rede Mobi.E e não em função do comercializador que o utilizador contrata, torna mais eficiente a utilização da infraestrutura disponível.»
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Apesar de estarmos a falar num caminho que começou em 2010, o presidente da MOBI.E reforça que « Apesar do muito que já foi feito é preciso ter consciência que a rede Mobi.E está ainda numa fase inicial. Para satisfazer o cumprimento dos objetivos ambientais definidos pelo Governo de garantir até 2030, 40% de mobilidade elétrica e atingir a neutralidade carbónica em 2050, o caminho é fácil e único. Crescer!!! Crescer em número de pontos de carregamento e crescer em potência. O grande desafio no médio prazo vai ser garantir um crescimento ordenado e planeado que permita responder às necessidades efetivas dos utilizadores e que garanta a rendibilidade dos investimentos que vão sendo efetuados. Para tal, a MOBI.E tem a expetativa de durante este ano ainda, promover um estudo que permita definir métricas locais, regionais e nacionais que ajudem a planear o desenvolvimento da infraestrutura de carregamento e que se constitua como um guia de crescimento ordenado da rede Mobi.E que será disponibilizado publicamente a todos os interessados.».
Evolução forçada
Há cada vez mais automóveis elétricos disponíveis em Portugal. Os fabricantes de automóveis tradicionais estão a entrar no segmento, mas foram forçados a acelerar esta participação: pela pressão de empresas e consumidores (cada vez mais sensibilizados para as questões ambientais), mas, essencialmente, pelos reguladores. Esta transformação foi motorizada pelos novos regulamentos impostos pela União Europeia a partir de 2020, conhecidos por CAFE (Corporate Average Fuel Economy). É verdade que algumas marcas já vinham a apostar na eletrificação há vários anos, sobretudo por razões ambientais, mas foi a ameaça de multas de milhares de milhões de euros, valores capazes de levar fabricantes à falência, que conduziu ao anúncio de tantos novos modelos de carros elétricos e eletrificados desde o final de 2019.
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Há uma série de variáveis consideradas pelo CAFE, mas, numa explicação simplificada, as marcas automóveis têm de atingir uma média de emissões máxima de 95 gramas de dióxido de carbono por quilómetro. Cada grama acima deste valor origina uma multa de €95… por carro vendido. Ou seja, um carro a gasolina com, por exemplo, emissões de 125 gramas dióxido de carbono por quilómetro (CO2/km), um valor que é até baixo no parque automóvel, representa uma multa potencial de €2850. Se a marca vender 100.000 unidades deste modelo, então a multa potencial será de quase 300 milhões de euros. E isto apenas para um modelo de emissões relativamente baixas. Se se mantivessem as vendas de 2019, alguns fabricantes teriam de pagar multas de milhares de milhões de euros, acima do valor dos lucros do mesmo ano.
Isto significa que os carros mais potentes a gasolina e gasóleo vão desparecer? Não, porque, como referido, o que importa é a média. Ou seja, se a marca vender dois carros, um híbrido plug-in com emissões de CO2 de 50 gramas/km e outro a gasóleo com emissões de 120 gramas/km, o resultado médio será de 87,5 gramas CO2/km, bem abaixo do exigido.
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Um cálculo que considera os carros (ligeiros de passageiros) efetivamente vendidos e não, como anteriormente, a gama da marca. Ou seja, antes desta nova regulamentação, além das emissões médias permitidas serem significativamente superiores, bastava aos fabricantes terem um ou dois modelos de baixas ou zero emissões em comercialização para reduzir a média, mesmo que esses carros não tivessem vendas reais. Daí várias marcas terem apresentado modelos elétricos considerados de conformidade (compliance cars), como carros elétricos que, apesar de existirem oficialmente na gama, tinham vendas quase nulas porque apresentavam preços demasiado elevados e/ou eram produzidos em quantidades muito limitadas.
Com a nova regulamentação, tudo mudou, e praticamente todas as marcas automóveis aceleraram o lançamento de carros elétricos ou eletrificados (híbridos) com o objetivo real de os conseguir vender, sobretudo a partir deste ano, de modo a ficarem abaixo das emissões médias de 95 gramas de CO2/km. É importante referir que as exigências sobre emissões vão continuar a progredir nos próximos anos, o que significa que as marcas terão cada vez mais dificuldades em conseguir respeitar as regras ambientais se tiverem uma quota de venda muito assente nos veículos não eletrificados, a gasolina e gasóleo.
Como usar os postos da rede de carregamento Mobi.E
- Estabelecer um contrato com um Comercializador de Eletricidade para a Mobilidade Elétrica, o qual lhe fornecerá um cartão ou uma App para aceder a todos os postos de carregamento da rede Mobi.E. O site da MOBI.E tem uma lista atualizada destes comercializadores.
- Verificar, de preferência antecipadamente, as condições de carregamento dos postos que pretende usar (potência do carregamento, tomadas disponíveis e custos). Para o efeito, recomendamos a consulta ao site da MOBI.E.
- Usar o cartão ou a app para ativar o posto e iniciar o carregamento – em Postos de Carregamento Rápido, os cabos estão incluídos no posto, mas nos Postos de Carregamento Normal o mais comum é o utilizador ter de recorrer a um cabo Type 2 (fornecido com a maioria dos carros elétricos).
- Usar o cartão ou a app para encerrar o carregamento.
- O valor a pagar será faturado ao utilizador, normalmente através de débito bancário, pelo seu CEME.
Carros elétricos para este ano
Cuidados a ter com a bateria do seu veículo elétrico
Há algumas técnicas simples que permitem manter a ‘saúde’ da bateria durante muito tempo, de modo a garantir que a capacidade útil se mantenha satisfatória para toda a vida do veículo.
Evite cargas e descargas completas
Considerando que as baterias perdem longevidade quando chegam a níveis baixos de carga, o melhor é evitá-lo. Ou seja, sempre que possível recarregue a bateria quando a percentagem de carga atinge um nível baixo. Alguns especialistas usam 10% ou 20% como referência, mas a verdade é que não há um número mágico. Simplesmente evite que a percentagem de carga se aproxime de 0%. Já agora, embora não seja tão grave, o melhor é evitar cargas completas constantes e, sobretudo, manter a bateria a 100% durante muito tempo (veículo parado com a bateria totalmente carregada). Se possível – alguns VE têm esta opção – programe o carregamento para não ultrapassar os 80% ou 90%, a não ser quando precisa da autonomia extra para viagens mais longas.
Descarregue lentamente
Como o número de ciclos de carga/descarga é um dos fatores mais importantes na degradação, é natural que quanto menos for necessário carregar, melhor. Deve optar por uma condução económica: mais suave, sem acelerações e travagens fortes. A regra é quanto menos usar os pedais, mais eficiente será a sua condução. Opte pelo modo Eco, quando disponível e escolha, se possível, um nível de regeneração mais forte nas descidas e em condução urbana e menos forte em vias em ‘estrada aberta’, como vias rápidas e autoestradas (nestas é melhor deixar deslizar). Regra geral, é preferível usar velocidades mais elevadas nas descidas que são seguidas por subidas em vez de usar a regeneração. E, claro, se for possível reduzir a intensidade ou mesmo desligar o ar condicionado, tanto melhor.
Carregue lentamente
Os carregamentos com maior potência aumentam a temperatura e, por isso mesmo, podem ser negativos para a longevidade das células. Como tal, recomendamos que restrinja os carregamentos de maior potência tanto em número como em tempo. Prefira fazer carregamentos de baixa potência (durante a noite, por exemplo) e deixe os carregamentos em Postos de Carregamento Rápido ou Ultrarrápido apenas para quando é mesmo necessário (viagens longas).
Cuidado com a temperatura
Evite carregar o VE sob o sol intenso naqueles dias de verão especialmente quentes, sobretudo em veículos sem sistema de refrigeração das baterias, ou após viagens longas a alta velocidade. Idealmente, o veículo elétrico deve ser guardado em zonas frescas, embora os possíveis ganhos com esta técnica sejam muito residuais.