Uma equipa liderada por Jan Kramers, Georgy Belyanin e Hartmut Winkler tem estado a analisar fragmentos da pedra Hypatia, encontrada no deserto do Egito, e descoberto vários sinais invulgares que indiciam estarmos perante a primeira evidência de uma supernova tipo Ia (lê-se “one-A”) a ser detetada no nosso planeta. Os investigadores conseguiram mesmo traçar uma linha temporal que começa nos primórdios da Terra, do Sol e de outros planetas do nosso sistema com base em pistas químicas encontradas na Hypatia.
Segundo esta equipa, a rocha provém de uma supernova tipo Ia onde uma estrela anã acabou por ‘comer’ uma gigante estrela vermelha, num fenómeno que pode ter acontecido dentro de uma nebulosa. Depois do arrefecimento, os átomos gasosos que sobraram da supernova começaram a ‘colar-se’ às partículas de pó da nuvem. “De certa forma, podemos afirmar que apanhamos a explosão da supernova tipo Ia em flagrante, porque os átomos de gás da explosão foram apanhados pela nuvem à volta e eventualmente formaram o corpo rochoso que deu origem depois à Hypatia”, afirma Kramers citado pelo EurekAlert.
A grande rocha de onde saiu a Hypatia acabou por tornar-se sólida por altura da formação do sistema solar como o conhecemos, com o processo formativo a ter acontecido provavelmente num local frio, na nuvem de Oort ou na cintura de Kuiper. A rocha começou depois a aproximar-se da Terra e, com o calor da atmosfera e a pressão do impacto acabou por desintegrar-se, criando micro-diamantes e a rocha que foi então encontrada. “Se a hipótese está correta, então a rocha Hypatia é uma das primeiras provas tangíveis na Terra de uma supernova tipo Ia. Talvez igualmente importante, mostra-nos como uma ‘parcela’ anómala de poeira do espaço exterior pode ser incorporada na nebulosa solar em que o nosso sistema solar foi formado, sem ser completamente misturada”, assevera Kramers, completando que “isso vai contra a visão convencional de que a poeira em que o nosso sistema solar se formou foi vigorosamente misturada”.
Os cientistas aplicaram diversas técnicas para apurar a origem da Hypatia, encontrando fragmentos que indiciaram ser de fonte alienígena, incluindo um metal que não tinha sido detetado até então no nosso sistema solar. Os investigadores quiseram ainda apurar se existe alguma unidade subjacente na rocha, alguma espécie de consistência no padrão químico encontrado e selecionaram 17 alvos a analisar.
No meio deste processo de descoberta, foram sendo afastadas hipóteses como se tratar de algo proveniente do sistema solar, das redondezas, de uma estrela vermelha gigante ou de uma supernova Tipo II. A elevada concentração de elementos metálicos pesados indicia que se trata de uma rocha originária de uma supernova tipo Ia, um fenómeno raro que acontece uma ou duas vezes por galáxia por século.