Os rápidos desenvolvimentos na área da inteligência artificial abriram portas à evolução do mercado de trabalho. Além de aumentar a produtividade dos humanos, ou até de os substituir em determinadas tarefas, a tecnologia permite que nos foquemos em profissões mais criativas, que exigem mais pensamento crítico e mais sensibilidade.
A transformação ocorreu de diferentes formas, em diversas áreas. A tradução é uma profissão que é particularmente interessante de analisar porque foi uma das áreas que não escapou e um caso em que existe evolução mútua, isto é, ao mesmo tempo que a inteligência artificial permitiu que mais pessoas se tornassem tradutores profissionais, também eles contribuem para o desenvolvimento da tecnologia e são uma parte muito crítica do processo.
De um lado, vemos que a evolução da inteligência artificial desbloqueou inúmeras oportunidades, sobretudo para tradutores freelancer. As novas plataformas de tradução, alimentadas por IA, preenchem atualmente as agendas dos tradutores e oferecem-lhes a oportunidade de aprender e de aceder a cargos mais qualificados, que antes estavam restritos a grupos académicos ou de investigação, como a anotação e de criação de bases de dados terminológicas.
No entanto, importa ressalvar que existem trabalhos, como, por exemplo, a tradução de um livro de poesia ou de um romance, que dependem de uma interpretação demasiado complexa que não está ao alcance de uma máquina. Mas que apenas se consegue com a sensibilidade e o conhecimento humanos. Sendo, por isso, uma área que não sofreu alterações significativas com o advento desta tecnologia. Isto leva-nos ao terceiro ponto.
Se por um lado, sabemos que comunicar (efetivamente) em várias línguas é uma prioridade para as empresas que querem escalar o seu negócio e atuar no mercado global, por outro, vemos que a infalibilidade da tradução automática ainda não é uma realidade. Por isso, as organizações que procuram ir além, encontram na edição humana a solução para desempenhar tarefas em áreas críticas como o serviço ao cliente, em que a qualidade da interação dita a satisfação do cliente e a sua lealdade a longo prazo. É o toque humano que assegura a precisão da conversa e a sua adaptação à cultura de cada língua. Assim, com a evolução da tradução automática e da inteligência artificial, também o papel do próprio tradutor mudou significativamente.
Mas não são só os tradutores que dependem da evolução da tradução com recurso a inteligência artificial, também ela depende do feedback humano para melhorar os algoritmos. Tal como os seres humanos, as máquinas dependem da aprendizagem e da melhoria contínua, por isso, as correções humanas são contribuições importantes para o seu aperfeiçoamento, num ciclo de evolução mútua.
Digamos, por exemplo, que um editor recebe o resultado da tradução automática, realizada por inteligência artificial, e deteta uma frase que não está correta em português e corrige-a. Essa correção é enviada diretamente ao cliente, tornando a resposta pessoal e precisa. Entretanto, a equipa de tradução automática recebe estas correções, e aplica-as ao algoritmo para este possa “aprender” com os seus erros.
Nos próximos anos, a relação entre tradutores e máquinas irá certamente evoluir e o que se prevê é que a relação entre tradutor e mecanismos de inteligência artificial se intensifique e que a comunidade compreenda que ambos podem coexistir através de uma evolução mútua.