Se no início deste ano ninguém sabia a diferença entre Epidemia e Pandemia, hoje em dia as diferenças estão bem marcadas. Se a primeira se restringe às fronteiras de um país, a segunda ganha uma dimensão e força global, enraizando-se em todo o mundo desde março, e ganhando a força destrutiva que só se imaginaria no cinema. E como nos filmes, há planos de ação a acontecer em simultâneo, como se assistíssemos a cenas síncronas em que os diversos países acionam os seus planos de contingência, fechando fronteiras e restringindo o movimento das pessoas, no sentido de proteger os seus.
Hoje, mais de 6 meses volvidos desde o início deste filme, está iminente ou já em cena, uma segunda vaga. Depois de um verão em que a maioria dos países aliviou os planos de contingência, em que se abriram fronteiras e se fez acordos para a implementação de corredores aéreos, assistimos agora a um aumento dos casos, a uma mutação do vírus e à desesperada corrida pela vacina. China, Rússia, Estados Unidos, Reino Unido, e Alemanha são alguns dos países com este processo mais avançado, mas os prazos anunciados para a sua efetiva implementação variam entre a primavera e o verão de 2021.
A redução da atividade turística foi drástica, e no caso da hotelaria em Portugal, os clientes domésticos não foram suficientes para compensar a falta de turistas estrangeiros e manter as taxas de ocupação nos níveis necessários
O turismo é, de facto, uma das atividades mais afetadas pela pandemia: aeroportos meio vazios, aviões a um terço da sua capacidade, hotéis com menos de metade da sua ocupação histórica, restaurantes e operações marítimo-turísticas que nem chegaram a retomar a sua atividade. Este é o cenário comum um pouco por todo o mundo. Durante este verão muitos foram os que viajaram, tendo cuidado acrescido e cumprindo com as medidas de proteção requeridas. No entanto, a redução da atividade turística foi drástica, e no caso da hotelaria em Portugal, os clientes domésticos não foram suficientes para compensar a falta de turistas estrangeiros e manter as taxas de ocupação nos níveis necessários.
Todavia, e relembrando os vários planos de ação em simultâneo, esta não foi necessariamente a realidade no resto do globo, especialmente em países em que o mercado doméstico tem uma dimensão e peso diferente do português. Com base em entrevistas feitas a colegas de outras nacionalidades um pouco por todo o mundo, percebe-se que existem realidades distintas, algumas bem diferentes da nossa.
Por exemplo, no estado de Nova Iorque, a necessidade de fugir aos centros urbanos e as restrições às viagens internacionais foram bastante benéficas para os resorts em zonas costeiras, como na zona de Montauk. Enquanto a hotelaria da cidade que nunca dorme estava quase parada, nesta zona balnear o preço médio por quarto e a taxa de ocupação foram similares ao ano passado, vendo-se também um aumento das receitas de restauração e bebidas dentro dos resorts, uma vez que os clientes estavam menos disponíveis a sair.
Já no Canadá, nos resorts de montanha, destino preferido de canadenses e norte americanos, tanto o preço médio como a ocupação registada sofreram decréscimos de mais de 50%.
Mais abaixo, no México, a cidade costeira de Los Cabos foi o destino mexicano com melhor performance turística, apenas registando um decréscimo de 30% na ocupação, mas mantendo o seu preço médio.
No velho continente, as realidades são díspares entre si, embora com alguns traços comuns à situação em Portugal. Em Itália, por exemplo, destino muito afetado pela pandemia, os resorts de praia tiveram melhores resultados do que hotéis de cidade, e apesar de terem conseguido ocupações semelhantes aos números históricos, o preço médio sofreu um decréscimo significativo. Na Holanda e na Alemanha, verificou-se igual tendência de fuga das grandes cidades, com Amesterdão a registar grandes descidas de ocupação e de preço médio em contraste com zonas balneares como Santpoort, onde os resorts se destacam com uma performance muito perto do normal.
Em Espanha, a hotelaria nas Ilhas Canárias e nas Ilhas Baleares sofreu bastante com as restrições de viagens impostas, tendo a sua atividade sido seriamente afetada; a previsão é que a recuperação apenas ocorra a partir de Abril de 2021, como em muitos destinos balneares um pouco por toda a Europa. Quanto ao turismo de cidade, em particular Madrid e Barcelona, foi muito seriamente afetado, tendência ainda mais agravada pela grande dependência destes destinos dos fluxos internacionais.
Em outras grandes cidades como Londres na Inglaterra, Edimburgo na Escócia ou Paris em França, as realidades são também similares, com menos clientes, embora os grandes centros tenham sempre alguma capacidade de atração. No entanto, o panorama geral é que as cidades estão agora meio vazias, consequência da paragem forçada no turismo cultural e de negócios.
Na China, onde tudo começou, é curioso perceber que em Wuhan, muitos hotéis reportam taxas de ocupação perto dos 100%, já utilizando a sua capacidade máxima, e com preços médios semelhantes ao período homólogo. Todavia, este volume é exclusivamente suportado pelo mercado interno, realidade que difere muito da realidade portuguesa.
As reservas de última hora foram a tendência comum um pouco por todo o mundo, motivadas pelo medo de novas restrições que impossibilitem as viagens, e da consciência por parte dos clientes que os hotéis têm disponibilidade para os acolher.
Entramos agora num inverno que a 13 de março deste ano era inesperado, mas que infelizmente está a tornar-se realidade. À beira de uma segunda vaga, muitos são os países que já estão a apertar os seus planos de confinamento, como por exemplo Espanha e França. Parafraseando William Shakespeare, parece que estamos à beira do “Inverno do nosso descontentamento.”