Para muitos de nós, colocar comida num recipiente de plástico significa usar um tupperware, mesmo que o fabricante seja outra empresa qualquer, de qualquer lado do mundo. Isso demonstra bem a força histórica da Tupperware, criada nos Estados Unidos da América em 1946, e cujo nome se tornou sinónimo de toda uma gama de produtos.
Esta quarta-feira, a empresa está perto do fim, com o pedido de falência apresentado em tribunal esta manhã. O grupo, que está presente em dezenas de países e também em Portugal, não resistiu às alterações profundas do comportamento dos consumidores, à concorrência chinesa e aos anos e anos de problemas financeiros.
No documento entregue em tribunal, a Tupperware estima ter responsabilidades financeiras de entre mil e 10 mil milhões de dólares (um intervalo estranhamente grande, diga-se), e ativos no valor de entre 500 e mil milhões de dólares. As ações da empresa haviam caído mais de 70% este ano, depois de os dados financeiros revelados em 2023 terem mostrado a situação muito difícil e por entre rumores, agora confirmados, de que a falência seria quase inevitável.
Depois de, durante décadas, a Tupperware ter estado absolutamente dominadora no segmento, a concorrência apertou muito, nomeadamente de fabricantes chineses mas não só. Por outro lado, a empresa nunca conseguiu realmente ganhar popularidade junto das novas gerações, para quem a fidelidade à marca era menos importante, isto apesar da apresentação recente de novos produtos e de uma estratégia de comunicação virada prara os mais jovens. Por último, tem crescido muito – também sobretudo junto das gerações mais jovens – a adoção de formas mais ecológicas de guardar comida, fugindo do plástico.
Este pedido de falência não significa necessariamente o fim da marca Tupperware. Com este processo, a empresa protege-se dos credores e deverá seguir-se uma venda de ativos, sendo possível que a marca venha a ter uma nova vida.
As origens da Tupperware
A empresa nasceu logo a seguir à II Guerra Mundial, com uma invenção de Earl Tupper, que patenteou o sistema de selagem em plástico flexível. Tupper acreditava que, numa altura em que não era assim tão comum haver um frigorífico em cada casa, havia um mercado gigantesco para a sua empresa, que ajudava as famílias a preservarem os alimentos por mais tempo. No entanto, o sucesso não foi imediato e Tupper chegou a pensar em desistir da ideia.
A grande mudança surgiu com a contratação de Brownie Wise, uma mãe solteira que, no início dos anos 50, inventou um modelo de venda inovador e extremamente bem sucedido: as festas Tupperware. Um grupo de mulheres juntava-se na casa de uma delas, convidava as amigas e, num ambiente festivo, bem disposto e com música, Wise fazia uma demonstração da qualidade dos produtos, com grande sucesso de vendas. Por outro lado, durante décadas, a Tupperware não vendia nas grandes superfícies, e sim através de vendedoras individuais, num estilo semelhante ao da Avon.
Este funcionamento levou Brownie Wise a ser a primeira mulher na capa da revista Business Week, em abril de 1954, enquanto elevava a Tupperware a um grupo que valia milhões, com milhares de vendedoras por todo o país. Para muitas destas “Senhoras Tupperware”, foi a sua primeira entrada no mundo do trabalho e do empreendedorismo.