Tornou-se na buzzword do ano e uma das áreas tecnológicas que mais investimento recebe. O desenvolvimento de grandes modelos de linguagem, como o ChatGPT, prometem revolucionar a forma como trabalhamos, sendo capazes de desempenhar tarefas que se pensava estarem reservadas a humanos. “Não vamos ser substituídos pela Inteligência Artificial (IA), mas eu não ambiciono ir todos os dias para o trabalho para passar oito horas em calls e a responder a emails”, apontou Manuel Dias, diretor nacional de tecnologia da Microsoft, durante a sua intervenção no Fórum Futuro do Trabalho, evento da EXAME em parceria com o ManpowerGroup Portugal e a AESE Business School.
Para Pedro Amorim, managing director da Experis e corporate clients director do ManpowerGroup Portugal, “as máquinas vão até onde nós queremos”. “As competências humanas continuarão a ser necessárias e a máquina vai libertar-nos de tarefas rotineiras”, explicou durante uma apresentação inicial, antes do debate. Com a chegada da IA, “terei de desenvolver novas competências e colocar mais emoção”. “A máquina fará o trabalho mais frio.”
Filipa Meireles concorda. “A adaptabilidade e a empatia são fundamentais para o desenvolvimento de um bom profissional”, afirmou a Talent Director da Capgemini Portugal.
No entanto, nenhum tem dúvidas da capacidade transformadora desta tecnologia. Mesmo em áreas que, até há pouco tempo, eram vistas como o futuro do trabalho. “Estamos num momento de transição. A IA generativa vai transformar a nossa sociedade. Já está a revolucionar o trabalho mais cerebral: mais de metade do código produzido hoje é desenvolvido por IA. O ChatGPT consegue programar e muito mais: consegue comentar código, fazer migração…”, aponta Manuel Dias. “A IA não nos irá substituir a todos, mas quem souber tirar partido destas ferramentas trará mais valor para as empresas.”
Nem todos os temas foram consensuais. Um deles foi a regulação. Pedro Amorim disse ficar “preocupado”, quando ouve falar em “regular e legislar”. “Devemos democratizar a utilização de IA. Quanto mais usarmos, melhor vamos perceber a ferramenta e as suas limitações”, acrescentou, pedindo para “deixar o carro andar”, “sem travões”.
Embora Filipa Meireles tenha concordado com a importância de democratizar a tecnologia, confessa-se inquieta por identificar um défice de aposta em certas áreas. “Há uma preocupação grande: temos pouca gente a planear a integração da IA na nossa sociedade”, referiu, notando que “não há uma entidade legitimada para levar este debate para um nível global”.
Manuel Dias colocou-se numa posição intermédia. “A IA tem 70 anos, mas nunca tivemos, como agora, um motor de raciocínio que usa linguagem natural. É preciso ir para o terreno e testar”, mas também pensar em “que salvaguardas criamos”. “É como na saúde, onde temos regulação”, acrescentou.
O Fórum Futuro do Trabalho decorreu esta quinta-feira na AESE, culminando com a entrega dos prémios “Melhores Empresas para Trabalhar”, que marca a sua 23ª edição.