Quando abriram as portas da United Lisbon International School (ULIS), em 2020, Chitra e Roman Stern afirmavam que queriam fazer deste estabelecimento de ensino a melhor escola internacional do País. Para dois estreantes no mundo da educação, o objetivo podia parecer ambicioso. Mas a verdade é que, depois de apenas três anos e uma abertura em pleno pico de pandemia da Covid-19, a ULIS integra o Dukes Education Group. Esta rede de escolas independentes de elite nasceu em Londres e tem na sua lista instituições como como o St. Andrews College, em Cambridge, a Knightsbridge School, em Londres, ou o Cardiff Sixth Form College, em Cardiff. Fundado em 2015, o grupo tem-se dedicado a escolher para suas parcerias instituições de ensino, de creches a escolas secundárias, que partilhem uma série de valores imprescindíveis para o fundador e presidente do Dukes, Aatif Hassan.
A ULIS torna-se, assim, na primeira escola internacional fora do Reino Unido a fazer parte desta rede de escolas que se destaca por ter sempre a criança no centro da sua atividade. “Queremos que todas as crianças possam viver uma vida extraordinária”, começa por dizer Aatif. O responsável esteve em Lisboa e, juntamente com Chitra Stern, falou em exclusivo à EXAME sobre a recém firmada parceria.

“Numa primeira fase do nosso crescimento estivemos focados em Londres, que foi onde o grupo nasceu, mas logo começámos a estender-nos para Gales, para Cambridge, para Kent… Foi uma evolução muito natural virmos para um dos lugares mais entusiasmantes na Europa, para Lisboa, numa parceria com esta bonita família e este incrivelmente entusiasmante e inovador projeto que é a United Lisbon International School”, justifica.
Queremos que todas as crianças possam viver uma vida extraordinária
aatif hassan
Aatif cresceu com dislexia e há vários anos que se dedica a tentar tornar o mundo da educação mais inclusivo e particularmente centrado no desenvolvimento pessoal da cada criança. O ensino estandardizado e tradicional a que a maior parte das instituições de ensino se dedicou nas últimas décadas tem deixado para trás alunos que, por simples falta de acompanhamento personalizado, acabam por não atingir o seu mais elevado potencial – acontece em Portugal, mas também no Reino Unido e em tanto outros países da Europa e do mundo.
O Dukes Education foi fundado por Aatif em 2015, mas já em 2013 este britânico com ascendência paquistanesa tinha fundado o Cavendish Education, cuja presidência continua a ocupar, que é um outro grupo de escolas dedicadas a crianças com dislexia e autismo. Licenciado em Matemática, serviu no Exército Britânico e passou pelo mundo financeiro antes de lhe ter sido atribuída, em 2020, a alta distinção “Freedom of City of London” por serviços em prol da educação.
Com a integração da ULIS na rede Dukes, atualmente a maior do Reino Unido, os seus intentos de garantir que todas as crianças têm acesso à melhor educação começa a estender-se além-fronteiras. Incluindo a ULIS, o grupo britânico agrega agora 40 marcas, chegando a 8 500 alunos e cerca de 2 280 funcionários.

Falámos com Chitra Stern e Aatif Hassan numa das salas do EDU Hub, contíguo à ULIS, na quinta-feira de São Martinho, e menos de 24 horas antes de Aatif regressar a Londres. Foi lá que contaram à EXAME o encontro fortuito que tiveram, pela primeira vez, há cerca de um ano, graças a um amigo comum. Chitra e Roman já conheciam o grupo, mas só depois da primeira conversa com Aatif perceberam o quão alinhados estavam com a sua visão de educação.
A questão é que, com projetos e valores alinhados, os responsáveis de ambos os projetos rapidamente perceberam que poderiam crescer mais juntos. “Saímos desse encontro com um entusiasmo muito latente”, confessa, a sorrir, Chitra Stern.
Aliás, mesmo antes de a ULIS abrir portas, Chitra e Roman Stern já tinham admitido estar à procura de grupos de educação a que se pudessem juntar para garantir que chegavam à excelência numa área da qual sabiam pouco. Os empresários chegaram a Portugal no início dos anos 2000 e tornaram-se conhecidos no mundo dos negócios nacionais pela criação da marca Martinhal, com os seus hotéis familiares de luxo. A ideia da escola internacional surge vários anos depois, quando identificam uma necessidade que eles próprios sentiam no mercado: haver uma instituição, dentro da cidade de Lisboa, que garantisse uma educação internacional de excelência e com o IB Programme implementado. O projeto começa em 2017, com a aquisição do edifício onde durante anos operou a Universidade Autónoma de Lisboa, e a escola abriu portas em 2020.

“O nosso percurso demonstra que nós atuamos com rapidez”, salienta Aatif, recordando que em sete anos o Dukes já conta com dezenas de escolas na sua rede – grande parte através de parcerias como esta foi agora estabelecida com a ULIS, outras que foram sendo adquiridas pelo grupo.
O que Chitra e Roman fizeram foi “investir em liderança e investir nas pessoas e acho que foi isso que me impressionou quando nos conhecemos”, sublinha o presidente do Dukes.
“Trabalhámos muito para encontrar professores muito bons, temos uma ótima e experiente equipa de liderança…só assim foi possível construir uma escola e equipas desta qualidade”, atira Chitra. “E, portanto, este é um passo natural na nossa ambição de sermos a melhor escola de Portugal”, diz com um sorriso. “Nós contruímos um edifício para dar uma educação maravilhosa às crianças. É uma escola que coloca a criança no centro” exatamente como aquelas que, no Reino Unido, começaram a integrar o Dukes. O que Chitra e Roman fizeram foi “investir em liderança e investir nas pessoas e acho que foi isso que me impressionou quando nos conhecemos”, sublinha o presidente do Dukes.
O mundo numa escola
Com mais de 500 alunos e dezenas de nacionalidades a coabitar no mesmo espaço – entre alunos e corpos docentes e discentes – a ULIS é hoje aquilo que Chitra e Roman sonharam desde o início: uma escola perfeitamente integrada na capital portuguesa, mas onde os alunos têm acesso ao mundo inteiro e a meios que os podem fazer ir para qualquer uma das melhores universidades europeias ou do EUA. Para os fundadores do projeto, criar comunidade dentro da diversidade era uma condição inegociável – “por isso sempre quisemos ter a palavra ‘united’ no nome da escola”, refere Chitra enquanto aponta para os presentes ao redor da mesa onde estamos sentados. “Estamos aqui pessoas com origens paquistanesas, singapuranas, suíças-alemãs, britânicas…todas a trabalhar em conjunto”, sorri. Essa diversidade, da qual é feita a sua própria família – os quatro filhos do casal Stern, ela singapurana, ele suíço, já nasceram em Portugal – foi outra das alavancas para esta parceria que quer fazer crescer tanto a ULIS como o Dukes.

Em comunicado, o Diretor escolar da ULIS, José Azcue, garante que na escola estão “ansiosos por trabalhar em estreita colaboração com o Dukes Education Group, de forma a aproveitar as sinergias e oportunidades desta parceria, para beneficiar a nossa comunidade de estudantes, professores, funcionários e pais”. No mesmo comunicado, a diretora-geral da instituição, Teresa Monteiro, realça que “com o Dukes, vamos preservar o nosso ethos e a nossa personalidade, ao mesmo tempo que abraçamos a sua experiência coletiva e o seu reconhecido esforço pela qualidade”
Com esta integração da ULIS no grupo britânico, os alunos da United Lisbon International School passam a poder ter acesso aos programas de intercâmbio entre as instituições do grupo, aos Summer Camp e às iniciativas várias que cada instituição coloca à disposição dos parceiros. Além disso, também acedem a toda uma rede de profissionais com experiências, percursos e formas de educar muito diversas. No mesmo sentido, também professores e outros funcionários passam a contar com programas e colegas internacionais com os quais podem aprender e trocar experiências, à semelhança dos pais, que passam a pertencer a uma comunidade muito alargada.
“Somos atualmente um dos principais fornecedores de aconselhamento universitário para instituições no Reino Unido, na Europa e nos EUA, somos o maior fornecedor de estágios de experiências imersivas de carreira, proporcionando aos jovens experiências práticas de carreiras futuras”, enumera Aatif. Ao seu lado, Glenn Hawkins, Diretor Geral do Dukes vai assistindo à conversa e entrecortando o sorriso com gestos de assentimento.
Antes de abrir a ULIS, Chitra tinha uma carreira bem estabelecida no imobiliário e, posteriormente na hotelaria. A instituição foi o seu primeiro passo na educação. No mesmo sentido, Aatif veio do meio corporativo. O que faz, então, com que dois empresários tão diferentes consigam ter sucesso no mundo do ensino?
Para Chitra, há uma frase dos pais que acabou por marcar o caminho: “A educação é a única coisa que ninguém te pode tirar”. Portanto, quando percebeu que faltava uma escola internacional, com o IB Programme implementado, dentro da cidade de Lisboa, percebeu que havia uma resposta que podia dar. E tendo decidido, pensou, com o marido Roman, da mesma forma que pensou todos os outros investimentos: queria ser a melhor no que fazia.

Já Aatif defende que é precisamente o facto de não terem uma visão tão concentrada apenas na educação que lhes permite pensar de uma forma mais criativa naquilo que são as necessidades das crianças e formas de as suprir ao longo dos anos.
“Além de que há uma questão de que ainda não falámos aqui que tem a ver com os desafios atuais dos jovens no que concerne à saúde mental”, salienta o presidente do Dukes.
Trata-se de ter empatia em relação à diversidade, de ensinar os jovens a lidar com suas próprias emoções, de trabalhar a capacidade de falar sobre si mesmos. Se dermos estas competências a estes jovens, eles podem crescer confortáveis na sua pele
aatif hassan
“Trata-se de ter empatia em relação à diversidade, de ensinar os jovens a lidar com suas próprias emoções, de trabalhar a capacidade de falar sobre si mesmos. Se dermos estas competências a estes jovens, eles podem crescer confortáveis na sua pele. Ao ensinarmos os bebés a expressarem-se emocionalmente, ele sente que está num ambiente seguro e vão sentir-se confortáveis e felizes. É isso que nos move”, acrescenta.

Os dois responsáveis salientam os currículos diversos da instituição e do grupo que lideram, realçando a importância de disciplinas como a expressão dramática, a programação, a música, os idiomas, os vários desportos e o acesso a laboratórios de inovação. Também a adoção de modelos alternativos às aulas que obrigam os alunos a estar sentados durante 1h30, quietos e calados, nas suas secretárias, se tem revelado muito frutífero no que à aprendizagem diz respeito. “Não trazemos uma mentalidade fixa”, salienta Aatif, lembrando que isso ajuda quando se fala de crianças e jovens que crescem num mundo em tão rápida evolução que beneficiam bastante, também, dessa flexibilidade no que à escola diz respeito.
“Estou ansioso para ver o que vamos fazer” juntos, acrescenta ainda.
E desengane-se se acha que a ULIS, em Lisboa, é apenas uma escola para filhos de expatriados ou para famílias internacionais. Na verdade, esclarece Chitra, cerca de 25% dos atuais alunos são provenientes de famílias portuguesas, que procuram para os filhos uma educação mais holística e internacional. Um número que toma especial relevância quando comparamos, por exemplo, o investimento que acarreta com outras escolas internacionais existentes na Grande Lisboa.

Por agora, o Dukes fica-se pela ULIS, mas Aatif não descarta continuar a olhar para Portugal. No mesmo sentido, Chitra e Roman prometem continuar a investir no seu projeto de educação para que ele se torne “um dos melhores da Europa, porque não?”, atira a dona da escola com uma gargalhada.
A verdade é que, há mais de 20 anos em Portugal e com um papel muito relevante naquilo que tem sido o desenho da imagem do País junto de investidores estrangeiros, este casal de empresários já nos habituou a um toque de excelência em tudo o que faz. O facto de a mais recente escola internacional de Portugal ser também a primeira a garantir um lugar na liga dos campeões do ensino do Reino Unido, parece ser apenas a confirmação disso mesmo.