Foram praticamente €10 milhões de despesas feitas no ano passado para conseguir realizar a 10.ª etapa do Grande Prémio de Fórmula 1 de 2020, e que se podem dividir em algumas grandes rubricas: “comissões e fees pagos ao promotor da Fórmula 1, custos com a preparação da infraestrutura (pista e edifícios) para a receção do GP de Portugal, custos com a organização da prova, médicos, aluguer de meios e máquinas, custos com alojamento, comissões sobre a venda de bilhetes, custos com a compra de mercadorias para F&B e custos com publicidade. O que totalizou um valor total de despesas de 9,4 milhões de euros”.
Os dados constam do Relatório de Execução entregue pela Parkalgar – a empresa promotora do evento em Portugal – ao Turismo de Portugal, e ao qual a EXAME teve acesso. O documento, de 18 páginas, foi entregue àquele organismo público no dia 16 de novembro de 2020, e os valores apresentados ainda não são finais.
De salientar que a questão das taxas de entrada, nas provas do ano passado, continua sem estar esclarecida, com Paulo Pinheiro a garantir que elas existiram e foram pagas pela Parkalgar – mas sem adiantar valores –, e com declarações de responsáveis governamentais, na altura, a afirmar que não foram cobradas ‘fees’ para nenhuma das provas a decorrer no Autódromo do Algarve. Fontes ouvidas pela EXAME, no ano passado, também davam conta da forte probabilidade de não ter havido lugar a taxas de entrada, por ter sido um ano particularmente atípico. O relatório financeiro da Liberty Media, dona da Formula 1, e que foi libertado no passado dia 26 de fevereiro, não é claro quanto a esta rubrica. O que se sabe é que as receitas do grupo caíram 43% para 877 milhões de dólares.
De regresso a Portugal (com o Grande Prémio a ser confirmado para dia 2 de maio), entre as despesas elencadas com o GP de F1, sabe-se que €1,5 milhões foram garantidos pelo Turismo de Portugal, tal como a Secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, confirmou à EXAME em entrevista no verão passado. A verba foi usada para asfaltar a pista do Autódromo de Portimão, que só em abril do ano passado garantiu a licença de ‘Grau 1’ da FIA, a que permite receber GP de F1.
Recorde-se que há 24 anos que Portugal não recebia o ‘Grande Circo’, e que a última prova tinha sido no Autódromo do Estoril. O caos provocado pela pandemia e o cancelamento de diversas provas a realizar em circuitos habituais fez com que a FIA olhasse para alternativas, e Portugal – na altura o bom aluno da Europa em termos de combate à Covid-19 – apareceu como que por magia no calendário das provas.
Entretanto, os restantes €7,5 milhões que constam na rubrica das despesas terão sido garantidos por patrocínios – recorde-se que a Heineken foi o principal patrocinador do evento – e pelo próprio promotor do GP F1, segundo foi possível apurar durante a última conversa que a EXAME teve com Paulo Pinheiro, CEO da Parkalgar, que se recusou a dar informações mais discriminadas.
Segundo o mesmo relatório entregue ao Turismo de Portugal, tanto o valor das despesas como o valor das receitas estimadas são provisórios. Os cálculos das receitas diretas e estimadas foram feitos pela Formula 1 e pela Universidade do Algarve, e apontam para valores idênticos: entre €26,7 e €27,7 milhões. O valor bate certo com aquele que o Ministério da Economia tem apontado como sendo o do impacto da prova – cerca de €30 milhões – e afasta cenários exponencialmente mais otimistas, como os que chegaram a ser traçados em setembro de 2020 e que falavam de um impacto de €100 milhões para a região do Algarve, apenas.
Estudos preliminares
No documento Portugal Impact Economic Overview, citado pela Parkalgar no já referido Relatório Final, a Formula 1 considera que o Grande Prémio de Portimão garantiu um impacto económico direto de gastos de espetadores e outros participantes individuais (staff F1, staff equipas F1, organização local, etc.) na ordem dos €11,6 milhões. O impacto económico direto de gastos com fornecedores locais rondou os €2 milhões, enquanto o impacto económico indireto terá sido na ordem dos €14 milhões, o que dá um total de €27,7 milhões.
Já a Universidade do Algarve calcula apenas o impacto económico direto de gastos de espetadores e outros participantes individuais, e aponta para um valor na ordem dos €14,7 milhões. O estudo, citado no documento – e que não foi possível consultar no próprio site da Universidade do Algarve – ainda estará apenas na versão preliminar, pelo que é expectável que seja, entretanto, revelado, embora a EXAME não tenha conseguido informação sobre datas de publicação.
Recorde-se que Paulo Pinheiro, através da Parkalgar, se encontra atualmente a negociar com a FOWC o regresso de uma prova ao autódromo Internacional do Algarve, daqui a dois meses. Tal como a EXAME escreveu no ocasião, no dia 12 de fevereiro a Fórmula 1 anunciou em comunicado oficial que “está confirmado que o regresso ao circuito de Portimão, em Portugal, é a opção preferida para preencher a lacuna” existente no calendário, que tem em aberto o primeiro fim-de-semana de maio, correspondente à terceira prova da temporada.
A decisão foi tomada durante a reunião da Comissão da Fórmula 1, que referiu no mesmo comunicado que “o grupo foi atualizado no espaço ‘TBC’ na versão atual do calendário de 2021. É intenção da Fórmula 1 preencher a vaga com uma corrida em Portimão, em Portugal, nas datas já realizadas no calendário. O acordo final ainda está sujeito a contrato com o promotor”.
Portimão ainda não é certeza
Era suposto ter havido uma decisão há cerca de duas semanas e meia, mas até esta quarta-feira, 3 de março, Parkalgar e FOWC ainda não tinham chegado a acordo, confirmou a EXAME.
E tal como a EXAME avançou há duas semanas, as taxas de entrada de um GP variam, em condições normais, entre os €10 milhões e os €30 milhões – considerando a presença de público e condições normais de funcionamento. No caso de as premissas mudarem, o valor pode cair significativamente, mas fontes oficiais resguardam-se nos contratos de negociação e nas suas cláusulas de confidencialidade para não revelar que intervalos de valores poderão estar em cima da mesa.
Uma das questões que poderá estar a atrasar as negociações entre a Parkalgar – que garante que a decisão está do lado de Portugal, neste momento – e a FOWC é a dúvida sobre a possibilidade de presença de público na prova, numa altura em que Portugal continua com um confinamento generalizado, e sem planos para desconfinar tão cedo.
Uma prova sem público tem um impacto significativo nas receitas da prova para o País e a região, e poderia comprometer um investimento igual ou superior ao do ano passado, tendo em conta aquilo que foram as receitas reportadas.
A temporada de Fórmula 1 de 2021 arranca no dia 28 de março, com o Grande Prémio do Bahrain. Esta semana, as equipas têm estado a confirmar o alinhamento dos pilotos e a apresentar os carros com que vão competir.
Artigo atualizado com o anúncio oficial das datas do Grande Prémio em Portugal.