Em tempos de Grande Confinamento, é sem estranheza que os dados referentes à confiança dos consumidores europeus registam quedas abruptas. “Registou-se uma queda excecional na confiança dos consumidores e em todos os setores de negócio”, nota a Comissão Europeia em comunicado. O índice que mede a confiança dos europeus no que se refere ao consumo caiu de 65.8 para 28.8 pontos, e as autoridades acreditam que, na verdade, a queda terá sido ainda maior, uma vez que não foi possível recolher os dados relativos a Itália. Recorde-se que o país continua em lockdown, e com o número de mortos a atingir recordes no ‘Velho Continente’.
Em Portugal, o indicador da confiança escorregou para valores mínimos de setembro de 2014, quando o País lidava ainda com as consequências da severa intervenção da Troika.
No último mês, a redução do indicador de confiança dos Consumidores resultou sobretudo do contributo muito negativo das expectativas relativas à evolução da situação económica do país, da situação financeira do agregado familiar e da realização de compras importantes
INE
“No último mês, a redução do indicador de confiança dos Consumidores resultou sobretudo do contributo muito negativo das expectativas relativas à evolução da situação económica do país, da situação financeira do agregado familiar e da realização de compras importantes”, lê-se no comunicado libertado esta quarta-feira, 29 de abril, pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). “No mesmo sentido, embora com menor magnitude, as opiniões relativas à evolução passada da situação financeira do agregado familiar também contribuíram negativamente”.
Entre as economias da zona euro, os Países Baixos registaram o maior tombo em termos de confiança, escorregando 32,6%, enquanto em Espanha a queda foi de 26%. A Comissão Europeia salientou que “em muitos países a taxa de resposta relativa a abril foi mais baixa do que habitualmente”, o que significa que os resultados e termos de comparação podem ser menos exatos do que o habitual. Ainda assim, são valores preocupantes e que revelam os tempos difíceis que se adivinham – o consumo bebe diretamente da confiança dos cidadãos, e é com ele que muitas economias estão a contar para conseguir recuperar já durante o segundo semestre.
Olhando novamente para Portugal, o INE revela também que o indicador de confiança da Indústria Transformadora está em níveis de abril de 2009, a refletir a evolução global da procura, que atingiu em abril o valor mínimo desde março de 2013.
No mesmo sentido, “a taxa de utilização da capacidade produtiva diminuiu significativamente em abril, situando-se em 70,9% (80,7% em janeiro), registando um novo mínimo histórico da série”, regista o INE. “O número de semanas de produção assegurada também sofreu uma diminuição significativa em abril, atingindo o valor mais baixo desde outubro de 2005”.
Também a confiança nos Serviços caiu para mínimos de abril de 2001 graças aos “contributos negativos de todas as componentes, que registaram a maior redução mensal das respetivas séries e atingiram valores mínimos”.
As vendas no Comércio a Retalho contraíram 5,6% em março, um valor que compara com o crescimneto de 8,9% no mês anterior, e que já reflete parcialmente os efeitos da pandemia tanto no comportamento da atividade económica como na quantidade de informação disponível, alerta o INE.
Recorde-se que Marcelo Rebelo de Sousa decretou o Estado de Emergência no País a 18 de março de 2020, numa decisão inédita da era democrática portuguesa, devido à pandemia de Covid-19. Há milhares de trabalhadores em lay-off, a taxa de desemprego, que em fevereiro se situou nos 6,4% não foi estimada pelo INE este mês, mas deverá aumentar exponencialmente em março e multiplica-se o número de famílias que já recorreu às várias ajudas disponibilizadas pelo Estado – enquanto os pedidos de ajuda ao Banco Alimentar dispararam em mais de nove mil só nas últimas semanas.
O FMI estima uma recessão global na ordem dos 3%, com a economia da zona euro a cair 7,5%. A confirmarem-se estes números – que muitos especialistas acreditam ser otimistas –, assistiremos à maior quebra em 90 anos, ou a pior recessão desde a Grande Depressão.
O Grande Confinamento deverá levar a economia nacional a afundar 8%, segundo as últimas previsões do FMI.