Nos últimos anos, ESG tornou-se numa sigla repetida ao infinito por empresas e consultoras. Ela significa Environmental, Social and Corporate Governance (ambiental, social e governança empresarial) e refere-se a critérios de atuação de empresas na forma como se relacionam com esses três vetores, seja na utilização de recursos, relação com os trabalhadores ou política de remunerações. A sua maior relevância explica-se por um interesse cada vez maior dos consumidores em relação a essas áreas, assim como a chegada ao terreno dos objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas.
Normalmente, estes critérios são usados para nos referirmos à atuação das grandes empresas. Não só porque elas são os principais atores nesses campos – especialmente pela disrupção ambiental que podem provocar -, como porque elas são os grupos com meios para fazer face a essas exigências. Contudo, em breve, as PME começarão também a ter de dar resposta.
“Há obrigações de reporte muito exigente para entidades financeiras e não financeiras que vão chegar a estas empresas”, refere Luísa Soares da Silva, executive board member do Novo Banco, numa intervenção nas ESG Talks, organizadas pelo banco em parceria com a EXAME, a VISÃO, a PwC e a Nova SBE, em cujo campus de Carcavelos decorrem todas as sessões. Desta vez, o tema era o impacto nos negócios das empresas, com destaque para as PME.
António Vieira, manager da PwC Portugal, concorda com essa ideia, citando uma nova diretiva europeia de reporte de sustentabilidade empresarial. “É essencialmente para as grandes empresas, mas é importante para as PME porque, ao fazerem parte da cadeia de valor das grandes, elas também serão chamadas a dar informação”, explicou.
Luís Veiga Martins, chief sustainability officer da Nova SBE, notou que “o ESG tem já uma relevância muito importante”, quando “estamos a falar de temas financeiros, crédito, linhas de financiamento e investimento nessas empresas”.
Numa apresentação sobre os dez mandamentos do ESG, António Vieira, ilustrou o crescente interesse pelo tema ao longo do tempo. “Inicialmente, nos anos 60, era muito mais ligado à segurança e higiene. Nos anos 90, começou a haver mais debate sobre emissões de CO2, tivemos assinatura do Protocolo de Kyoto. Nos últimos 20 anos, o pilar social e climático ganhou peso”, afirmou.
As empresas vão olhando para o cumprimento destes critérios com mais atenção, acompanhando uma maior relevância dos ativos intangíveis. “Marca, reputação, respeito pelos direitos humanos, boa relação com a comunidade… Os intangíveis têm cada vez mais valor de mercado”, acrescentou o manager da PwC.
Ao mesmo tempo, ao não ser capaz de travar o aquecimento do planeta, as alterações climáticas tornam-se uma urgência cada vez maior. Na sua apresentação referiu que a “intensidade global de CO2” caiu 1,4% entre 2000 e 2021. Contudo, para cumprir o objetivo de limitar o aquecimento a 1,5 graus, seria necessária uma taxa anual de descarbonização de 15,2%. “Para cumprir os acordos internacionais, é preciso fazer dez vezes mais do que nos últimos 20 anos”, sublinhou António Vieira.