A imaginação humana não tem limites… Lembra-se de ver, nos filmes, adolescentes a encostar o termómetro ao candeeiro para assim aumentar a temperatura e simular um episódio de febre, de modo a faltar às aulas? Agora o “truque” faz-se com os testes caseiros à Covid-19.
Da imprensa inglesa chegam-nos vários relatos de que há estudantes a usar sumo de laranja, coca-cola ou mesmo ketchup para obterem um resultado positivo no teste caseiro de antigénio. Dizem que basta colocar uma porção desses produtos no dispositivo de leitura do teste e, em poucos minutos, voilà!, temos um falso positivo.
Na verdade, não pode chamar-se “falso positivo” ao resultado, uma vez que este termo é usado no caso de se seguirem todos os protocolos, nomeadamente recolher a amostra com uma zaragatoa e mergulhar a mesma num tubo com um líquido. É essa solução que depois é vertida para o dispositivo de leitura do teste. Já a falsificação do teste rápido será feita sem mergulhar o sumo de laranja, por exemplo, no tal líquido. Já veremos porquê.
“O fenómeno – que foi verificado pelo Guardian através de uma experiência – não significa que o sumo de laranja contenha o vírus. Antes parece estar ligado à acidez do produto que, essencialmente, arruina o teste”, escreve o conceituado jornal inglês.
“Eu próprio já fiz a experiência com Coca-cola e deu positivo”, revela Germano de Sousa, antigo bastonário da Ordem dos Médicos e fundador dos laboratórios Germano de Sousa. E explica: “Quando há um positivo, isso significa que existem vestígios de um anticorpo contra as proteínas do vírus. Acontece porque se dá uma reação que se passa num determinado PH ótimo”.
Ora, é justamente para se ter a certeza de que o teste está bem feito e dentro do PH ideal – que pode ir dos 7,5 aos 8,5 – que se mergulha a secreção recolhida na zaragatoa dentro do tubo que contém um líquido tampão, ou seja, uma solução que vai garantir o PH.
“A Coca-cola tem um PH de 3; o sumo de laranja é extremamente ácido. Claro que vão alterar todas as reações”, continua Germano de Sousa, sublinhando que, em laboratório, os testes são “impossíveis de falsificar”. “Por isso é que um teste rápido deve ser sempre confirmado por um PCR. Se for feito fora dos primeiros cinco dias de sintomas, já pode originar falsos negativos”, diz o médico.
Seja como for, o objetivo dos estudantes (e até há vídeos no Tik Tok a explicar como se faz) fica cumprido, ignorando porventura que, pelo motivo fútil de faltar às aulas, vão prejudicar a vida de muita gente, incluindo dos pais e outros familiares, e dos professores e colegas.
Mas já antes dos estudantes, um deputado austríaco quis demonstrar no seu parlamento como os testes são falíveis, vertendo uma porção de Coca-cola num teste rápido. Claro que não a passou pelo tubo com o líquido tampão, de modo que o “truque” acabou por ser desacreditado. O deputado era Michael Schnedlitz, secretário-geral do Partido da Liberdade da Áustria, situado no espectro político da extrema-direita populista.
“É preciso haver investigação e conhecimento por detrás de uma ideia como essa para falsificar os testes. É uma ideia malévola que tem como objetivo prejudicar os sistemas de saúde dos países ocidentais”, conclui Henrique Lopes, especialista em Saúde Pública e professor na Universidade Católica Portuguesa.
Conclusão
Verdadeiro. É possível falsificar um teste antigénio Covid para obter um falso positivo. Mas se forem seguidas as instruções à risca, já não é possível.
FACT CHECK “VERIFICADO”. Conheça os factos, porque é preciso ter VISÃO.