Os escassos segundos que gastamos com uma simples assinatura podem significar a liberdade de uma pessoa ou de uma comunidade. Esta é a mensagem principal a reter da campanha Maratona de Cartas, uma iniciativa da Amnistia Internacional (AI) que funciona em cadeia por todo o mundo, terminando daqui a um mês, a 10 de janeiro.
Quando o movimento começou, há 14 anos, na Polónia, Witek Hebanowski estava longe de imaginar que iria conseguir mobilizar milhões de pessoas. Em 2001, o coordenador de um grupo local da AI estava à frente de um festival e foi abordado por uma jovem chamada Joana que lhe falou sobre o que organizara num país africano: em 24 horas, as pessoas escreveram cartas de protesto para os seus governos.
Desde então, a Maratona de Cartas tem sido replicada um pouco por todo o mundo. Só no ano passado, participaram mais de três milhões de pessoas em 200 países e territórios. Em Portugal, começou em 2003 e o número crescente de assinaturas demonstra o interesse cada vez maior dos portugueses. Em 2010, foram recolhidas 5 611 assinaturas e no ano passado esse número atingiu as 150 436, com a participação de 138 escolas, 34 estruturas da AI e 15 instituições.
A Maratona de Cartas consiste na assinatura de apelos da AI. “É um movimento global de pessoas que dão a sua assinatura para ajudar a salvar vidas”, diz Ana Monteiro, coordenadora de campanhas. “Ao contrário de uma petição pública que tem um objetivo político, esta campanha tem como objetivo respeitar os direitos humanos.”
Em outubro, de cada ano é feita uma lista de 12 casos, escolhidos pelo Secretariado Internacional da Amnistia Internacional e cada país tem liberdade para eleger os casos. Por cá, serviram de critérios a representatividade regional, o equilíbrio de género, o facto de ser um caso de comunidade em risco e que represente as campanhas globais em curso.
Assim, este ano as assinaturas dos portugueses servirão para “salvar” o jornalista e ativista Rafael Marques, “condenado injustamente” por ter escrito um livro em que expõe alegadas violações de Direitos Humanos em Angola; raparigas e adolescentes no Burkina Faso forçadas a casar precocemente e, assim, limitadas nas suas escolhas de vida e no exercício dos seus direitos sexuais e reprodutivos; Costas, um grego homossexual, e o seu companheiro, espancados com violência por duas vezes, em Atenas, devido à sua orientação sexual; e ainda Yecenia Armenta, presa há três anos por um crime que assevera não ter cometido, depois de ter sido condenada no México com base numa “confissão” extraída sob tortura brutal: esteve suspensa pelos tornozelos de pernas para o ar, e foi sufocada, espancada e violada.
E depois de assinarmos as cartas?
As assinaturas recolhidas até ao dia 10 de janeiro são entregues nas respetivas embaixadas dos países em Portugal ou enviadas por correio para as autoridades, tornando-se uma forma de exercer pressão, mostrando que no mundo há milhões de pessoas preocupadas com estes casos de abuso.
“É muito importante fazer lóbi junto das embaixadas, para criar uma relação para futuras resoluções de casos”, nota Ana Monteiro. “Praticamente todos os anos, pelo menos um prisioneiro dos casos da maratona internacional tem sido libertado.” Foi o caso de Moses Akatugba.
Em 2005, o nigeriano tinha 16 anos, quando foi detido a caminho da escola, acusado de roubar telemóveis à mão armada. Já estava preso há seis anos quando, em 2013, foi condenado à pena de morte. O governador do estado do Delta, no dia que celebrava a independência da Nigéria, disse que as cartas estavam a chegar e, em maio deste ano, Moses foi libertado, tornando-se também um ativista. Uma história com final feliz.