Tenho 23 anos e uma depressão “física” há um ano e meio. Tomo diariamente meio comprimido de Escitalopram e, em caso de SOS, Medipax ou Victan. Penso que esta medicação não me está a ajudar. Quando me foi diagnosticada a depressão eu não conseguia sair de casa tinha ataques de pânico em qualquer lugar, um género de agorafobia, e a medicação ajudou-me bastante. A psiquiatra das urgências do Hospital disse para tomar a medicação durante 12 meses.
O que acontece é que já passaram mais de 12 meses e continuo com recaídas. Perdi 12 quilos desde a depressão, apesar de fazer uma alimentação saudável. Tenho muito sono e cansaço, mudanças de humor repentinas, tonturas, dores de cabeça, etc.
Não sou acompanhada por psicologia nem psiquiatria, pois os serviços públicos dizem que o meu caso não é “grave” e não tenho verbas para ir a um particular. Luto todos os dias para tentar ultrapassar estas fobias e pânico e levantar-me da cama. Se pudesse, dormia e não saia mais de casa. Não sei o que fazer e queria um conselho seu.
A depressão é um quadro clinico que tem causas multifactoriais. O diagnóstico deve ser feito por um médico, tal como o acompanhamento das fases de tratamento. As investigações realizadas neste campo sugerem que a combinação do uso de fármacos com uma psicoterapia produz resultados mais eficazes. Isto porque a medicação atua ao nível dos sintomas (abatimento, estados ansiosos e oscilações de humor), que são uma fonte de sofrimento e comprometem a prossecução dos afazeres quotidianos e, acima de tudo, a qualidade de vida. A boa notícia: o problema traz consigo a solução.
A psicoterapia atua ao nível do funcionamento psicossocial: a forma de nos relacionamos connosco e os que nos rodeiam, os mecanismos de defesa (nem sempre os mais adaptativos e, muitas vezes, assentes em experiências de perda, ou que produziram mágoa, ressentimento, frustração, raiva e sentimentos de desvalorização pessoal) e as capacidades que usamos (ou evitamos / não chegamos a usar, por inibição, medo ou falta de modelos de referência).
A terapia farmacológica não é isenta de efeitos secundários, que dependem de pessoa para pessoa, e produz efeitos a médio prazo. O desmame dos fármacos (antidepressivos e ansiolíticos) deve ser feito com vigilância médica e à medida que a psicoterapia vai produzindo resultados, na relação terapêutica. O objectivo é conseguir compreender e pensar vivências emocionais que ficaram por digerir, e das quais pode ficar refém. O que quer que, internamente, torna a sua vida paralisante ou debilitante, tendem a actualizar-se na sala de consulta, do mesmo modo que a exploração e descoberta de outras formas de sentir, pensar e agir.
Assumir parte ativa no enfrentar de problemas e na condução do seu caminho é vital para sentir-se menos deprimida. Reconhecer os seus recursos pessoais, encontrar e respeitar a sua voz (sem crítica ou censura auto-imposta) exige um investimento da sua parte. Pode recorrer à clinica privada e negociar um valor “social” ou contactar o serviço à comunidade da universidade pública, que promove consultas gratuitas ou a baixo custo. Além disso, comece por experimentar ser mais tolerante consigo, fazer passeios ao ar livre – idealmente na companhia de alguém – e envolver-se numa actividade que já lhe deu prazer, mesmo que implique agora algum esforço.
Clara Soares, jornalista, psicóloga e autora do blog Psicologia Clara