Sinto que estou à beira da rutura, com dores de cabeça constantes e momentos de grande stress profissional. A minha vida particular deu grandes voltas nos últimos tempos e sempre me aguentei forte, ajudando outras pessoas, inclusivamente. Agora estou bem, a nível pessoal, mas piorou tudo no trabalho, onde sou obrigada a uma gestão difícil de pessoas e responsabilidades.
Todos os dias chego a casa exausta e com muitas coisas para continuar a fazer, como todas as mulheres que conheço (tenho dois filhos). Porém, não tenho vontade de fazer nada. Mesmo os meus passatempos habituais, como ler ou fazer palavras cruzadas, me parecem coisas aborrecidas. Não me despertam interesse nenhum. Qualquer conflito que surja no trabalho deixa-me logo de lágrimas nos olhos o que não acontecia até aqui. Além disso, irrito-me com facilidade, perco a paciência e só me apetece dormir.
Penso que chegou o momento de parar, mas não sei o que hei de fazer. Marco uma consulta de quê? Psicologia? Psiquiatria? Preciso de instrumentos para gerir o stress e prevenir um esgotamento. E acabar com as dores de cabeça que me perseguem.
Começo por lembrar que corpo e mente estão ligados e as perturbações num deles afetam o funcionamento do outro. Desconheço qual a fase de vida em que se encontra e se está é a primeira vez que se encontra nesta situação. Admitindo que sim, sugiro que avalie:
– O seu funcionamento corporal (se a pressão arterial está ok, se bebe água suficiente – uma das causas comuns de dor de cabeça é a desidratação – e se a dieta alimentar está a ser equilibrada ou há falta de nutrientes). Sugiro que consulte o médico de família (ou clinico geral / medicina interna) que lhe possa prescrever um check-up (análises clinicas, na versão mais curta). Mesmo que o stresse seja o agente do seu mal-estar, é sempre útil certificar-se de que está tudo bem no plano físico.
– A sua gestão pessoal (que tarefas pode delegar, aos filhos, se já tiverem algum grau de autonomia, ao companheiro ou familiares? Quando é preciso estabelecer limites, no trabalho em particular, consegue dizer “não” e tomar decisões? Consegue estabelecer prioridades?). Se os problemas se deslocaram do plano pessoal para o profissional, será útil fazer pequenos ajustes na organização do seu quotidiano e rever a sua atitude no que se refere às questões da “responsabilidade” (para não andar depois em “piloto automático” até ficar exausta)
– O seu “depósito energético” (não são só o telemóvel e o carro que precisam de combustível e o seu pode estar na “reserva” e a precisar de recarregar a bateria, sinalizando-lhe que “chegou o momento de parar”). “Parar” permite algumas leituras e atrevo-me a sugerir algumas: parar de aguentar e de “apagar fogos”? parar de andar sempre a fazer coisas (ou a impor-se um ritmo demasiado exigente para si, independentemente do que se passa com outras mulheres?)
Transições à vista
Se o seu modo de funcionamento tem sido, até agora, mais orientado para (ou dependente) do exterior (os outros, as exigências deles, as circunstâncias) é provável que, em certos períodos da vida (este pode muito bem ser um deles), sinta a necessidade de reorientar o leme. O estado motivacional e as questões de auto-estima são qualidades internas que podem, e merecem, ser desenvolvidas, para evitar a sensação de deriva e sentimentos de impotência (andar ao ritmo do que acontece à volta).
Nesse caso, fará sentido o plano B, ou seja, a consulta especializada. A psiquiatria é uma especialidade médica e o clinico pode prescrever medicação e /ou psicoterapia. Contudo, a consulta com um psicólogo não requer a ida a um psiquiatra.
Clara Soares, jornalista, psicóloga e autora do blog Psicologia Clara