Contratei uma explicadora para o meu filho, por sugestão dele, a fim de subir as notas. Estaria tudo a correr bem, não fosse eu encontra-lo a chorar. Uma paixoneta que não está a correr bem, pensei eu (ele já tem 16 anos!) “Que se passa?”, perguntei. Ele disse-me, então, e para meu espanto, que não estava a conseguir, que tinha medo de ficar para trás, apesar do esforço no estudo.
Esforça-se, mas não consegue. Eu quero o melhor para ele e dar-lhe ânimo, mas não sei como. Preocupa-me quando ele se fecha no quarto a comer sandes e bolachas ou quando fica acordado até tarde. No dia seguinte anda aflito e irritadiço. O que posso fazer para que ele melhore o rendimento escolar sem esta angústia?
A situação em que está o seu filho é mais comum do que possa parecer. O clima de competição que muitos adolescentes enfrentam no meio escolar põe à prova as capacidades desenvolvidas. Entre elas, a consciência dos limites, a tolerância à frustração e a disciplina para gerir o tempo (de estudo, lazer e rotinas de sono) e satisfazer as necessidades básicas (alimentação, por exemplo, tão importante nesta faixa etária).
Partindo desta base, pode fale com ele, mas apenas se ele der mostras de continuar “aflito”. A melhor forma de ajudar o seu filho é não se mostrar mais preocupada que ele, procure antes estar atenta e disponível (por vezes, os adultos tendem a levar muito a sério uma “explosão” dos filhos, que para eles pode ter um efeito catártico e depressa recuperam da tensão emocional episódica). Aqui fica uma lista de sugestões que podem melhorar a rotina no seu filho e mantê-lo em forma.
Alimentação. O consumo de bebidas estimulantes e açucaradas à noite (como a coca-cola e outros refrigerantes ou chá preto) é de evitar, pois o metabolismo quer-se baixo, para preparar o corpo para o sono. Saltar refeições ou comer sem regras tem efeitos nefastos, para já não falar dos alimentos com baixo teor de proteínas (o excesso de pão ou hidratos de carbono, de combustão rápida, dão energia imediata, mas de curto alcance). É preferível apostar na fruta, em vez da bolacha, dos legumes (têm vitaminas e reforçam defesas) em vez da batata frita. E peixe (em vez da carne, especialmente à noite), fonte de proteínas e óleos essenciais. E água, o combustível do cérebro, que tal como o resto do corpo, precisa para funcionar como deve ser (e sem dores de cabeça… sabia que muitas delas se devem à falta de hidratação)?
Gestão do tempo. Aqui vem a parte onde terá de ser mais firme: o prazo limite para ir dormir. Manter uma hora fixa, sem desvios, “nem mas nem meios mas”, é fundamental. Idealmente, meia hora antes, é a altura para fazer o aviso. Este ajuste vai fazê-lo recuperar o estado anímico e ficar menos “irritadiço”. As pausas e os intervalos de estudo também contam. Após uma hora de estudo, é desejável parar durante alguns minutos e voltar a concentrar-se, a seguir.
Relaxar. Jogos, tv e actividades lúdicas, sozinho e acompanhado, devem fazer parte do menu da semana, a par do estudo e, se for caso, ser programadas no calendário (escolar, da agenda ou do telemóvel). O que importa e ser claro quanto ao tempo para “trabalho” e para “conhaque” (ou melhor, diversão!) As actividades que dão prazer operam quimicamente no funcionamento do cérebro, que liberta endorfinas, produtoras de bem-estar e boa disposição.
Estes ajustes, feitos à medida das necessidades que o seu filho apresentar, podem levá-lo a sentir melhorias após, sensivelmente, duas semanas (após a terceira semana, em média, é quando tendem a ganhar mais consistência). Se, mesmo assim, o rendimento escolar não for o desejado, importa aprender a lidar com o “fracasso”, ou rever o nível (elevado?) de expectativas.
Clara Soares responde a questões sobre psicologia. Envie as suas perguntas para visaosolidaria@impresa.pt ou clara.psy@gmail.com