Foi este o desabafo benigno de uma amiga, há dias, quando se socorreu dos meus préstimos de nany. Isto para dizer que até o mais desatento dá conta das mudanças que a sociedade está sofrendo e de que a família, pilar fundamental, já não é aquela que se encontra ilustrada, por exemplo, [pela minha querida] Maria Keil, nos manuais da escola primária dos anos sessenta, setenta. É mais parecida com Famílias e como (Sobre) Viver com Elas, livro escrito, também, por John Cleese. Esse mesmo. Que nos faz sorrir com inteligência.
As novas formas de organização familiar, que deram títulos elucidativos a livros que abordam estas matérias, à luz das mais diversas disciplinas, como é o caso de Os meus, os teus e os nossos, estão em expansão. E se a isto juntarmos as análises feitas à volta dos atuais dados demográficos, temos mais do que matéria para conferências, workshops, seminários. Principalmente, temos matéria para ficarmos preocupados. E procurarmos saber o que se anda a fazer, que políticas estão programadas ou em vias de programação para dar respostas eficientes e eficazes a estes problemas sociais. Novos paradigmas, modelos emergentes a convocarem a atuação conjunta de investigadores, políticos, universidades.
E é de um destes encontros que vos quero falar.
Promover o diálogo social e as boas práticas no âmbito das relações intergeracionais e criar bases para políticas intergeracionais sustentáveis, são os principais objetivos do grupo de trabalho Advocacy para Políticas Intergeracionais, o qual será apresentado, na próxima quinta-feira, 21, em Lisboa, na abertura de um workshop que terá lugar na Fundação Lusa Americana para o Desenvolvimento.
Este encontro decorre sob o signo das políticas intergeracionais que a “segunda parte” do Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre Gerações, proclama.
Soube do evento por duas interlocutoras de gerações diferentes: Maria Helena Pais, diretora da Prosalis e Marta Gonçalves, investigadora no Centro de Investigação e Intervenção Social do ISCTE-IUL e no Center for Multicultural Mental Health Research da Harvard Medical School. Uma conversa muito interessante, onde esteve, também, presente o cruzamento de experiências e saberes de tempos distintos.
Nunca, como agora, os dados demográficos foram chamados à baila. A Europa envelhecida, as crianças que não nascem e, depois, os cenários que se abrem, fruto desta conjuntura. Tudo isto preocupa. População em geral e cientistas sociais, em particular. As políticas fazem-se, ou devem fazer-se, também, sustentadas em estudos. Todos os contributos são válidos para encontrar o melhor caminho, respostas por dar.
Baixa Natalidade vs. Aumento da População Idosa assim se intitula a mesa que Marta Gonçalves apresentará neste encontro. Um estudo desenvolvido no ISCTE-IUL/CIS-IUL, ao longo do último ano, com 386 mães, sobre as atitudes face à conceção. Um dos resultados deste estudo “é que mães com três ou mais filhos revelam uma atitude mais negativa em relação ao aborto e à contracepção, e um nível mais elevado de satisfação com a vida do que mães com menos de três filhos”. E o debate, à volta do tema, está lançado. Tanto para analisar!
Numa outra mesa, estará em discussão o “Reconhecimento da Família no Apoio a Crianças, Jovens e Idosos; Formação dos Prestadores nos Cuidados a Idosos”. Aqui, o estudo a apresentar reporta à pesquisa desenvolvida com 307 pessoas, ao longo do último ano, por aquelas instituições. Desta vez, a atenção é dada ao conflito bidirecional trabalho-família. “Um dos resultados deste estudo é que o conflito trabalho-família se revela maior do que o contrário, o conflito família-trabalho.” Citando uma das participantes no estudo, “todos nós gostávamos de ganhar mais, mas eu queria passar mais tempo com os meus filhotes…”.
Na próxima quinta-feira, em Lisboa, o encontro andará à volta destas questões tão pertinentes e atuais. Na sessão de encerramento, Marta Gonçalves apresentará o caso da Alemanha e Suíça para ficarmos a saber o que por lá se faz no que concerne à promoção de políticas intergeracionais. A investigadora abordará, ainda, algo em que acredita profundamente: “A importância da ponte ciência-terreno-política, nesta área, em Portugal”.
Creio que é de colocar na agenda.