A vespa velutina nigrithorax, mais conhecida por vespa asiática, é uma espécie autóctone da Ásia, proveniente de regiões tropicais e subtropicais do norte da Índia, do leste da China, da Indochina e do arquipélago da Indonésia. Os especialistas indicam que a espécie chegou à Europa pelo porto de Bordéus, em 2004, através de um carregamento hortícola proveniente da China. Quanto a Portugal, não há certezas de como terá chegado, mas a teoria defendida é que chegaram num carregamento de madeira oriundo de França e descarregado no porto de Viana de Castelo.
De acordo com a DGS, a vespa velutina instala-se sobretudo em áreas urbanas e periurbanas e é um predador da abelha europeia. A zona norte do País e a área metropolitana de Lisboa são as áreas mais atingidas pela praga.
Como distingui-las
Para distinguir uma vespa asiática, das vespas crabro, nativas no território português, deve estar-se atento à coloração e ao tamanho do inseto. A espécie invasora é diurna, pode chegar aos três centímetros e meio e tem o tórax praticamente negro, aveludado e delimitado por uma faixa fina amarela. O abdómen maioritariamente castanho tem menos tons de amarelo, as asas são escuras e as patas são pretas e amarelas, enquanto que as vespas europeias têm as patas acastanhadas.
Os ninhos da vespa asiática encontram-se nas árvores, a alturas entre cinco e dez metros, têm uma forma arredondada que pode chegar ao metro de altura e até 80 centímetros de diâmetro. Cada ninho pode albergar cerca de 2000 vespas e 150 fundadoras, que, no ano seguinte, poderão criar pelo menos seis novos ninhos.
As colónias desta espécie são anuais e têm início na primavera, altura em que a rainha-fundadora acorda da hibernação e cria as primeiras obreiras num primeiro ninho. Quando a colónia já está desenvolvida trocam para um segundo ninho, no qual ficam até ao final do inverno do ano seguinte, altura em que a rainha morre e as sucessoras abandonam o vespeiro, acasalam e hibernam fora do ninho, em locais seguros, para garantir um novo processo no início da estação seguinte.
Como identificar uma vespa asiática
O que fazer
As autoridades alertam para que sejam reportados os avistamentos, quer do inseto, quer dos ninhos, para que se possa proceder à exterminação da colónia. O processo deve ser realizado por indivíduos qualificados, pois as vespas asiáticas, apesar de não serem mais venenosas do que a vespa europeia, são mais rápidas e agressivas. Têm um comportamento mais defensivo e surgem em grande número para defender o vespeiro.
“No caso de sentirem os ninhos ameaçados, reagem de modo bastante agressivo, incluindo perseguições até algumas centenas de metros”, alerta a DGS.
Porque são um problema
Para os humanos o maior perigo não é, como já dissemos, causado pela quantidade de veneno numa só vespa, mas sim pela possibilidade de uma vespa se sentir em perigo e atacar com o auxílio das companheiras. Nesse caso, a concentração de veneno pode ser tão elevada que provoca uma reação alérgica que pode ser grave, a ponto de se tornar fatal.
Para a sustentabilidade da apicultura em território nacional, a vespa asiática também é um problema e os apicultores estão preocupados com esta ameaçadora praga. Em 2023, esta espécie foi responsável pela destruição de três mil colmeias no Alto Minho, precisamente a zona onde surgiu primeiro em Portugal.
“Um colega meu tinha quarenta colmeias, na zona de Fátima e o ano passado morreram todas. As vespas mataram-nas. Agarram-nas e levam-nos para uns metros de distância, para lhes cortar a cabeça, as asas e o ferrão. Só levam o tórax para o ninho, que é a parte mais rica em proteínas”, explicou Alcides Gomes, apicultor do centro do País, à VISÃO.
Os ataques a apiários ocorrem, sobretudo, entre o início do verão até ao outono, altura em que as vespas precisam de alimentar as crias. “Elas praticamente nunca entram no ninho, andam a planar perto da colmeia e agarram as abelhas no ar, mas é tudo muito rápido”, acrescentou Alcides Gomes.
“A vespa asiática ou velutina provocou uma enorme quebra na produção de mel, sobretudo no Norte do País”, garantiu, por seu lado, João Valente, presidente da Associação de Apicultores do Norte de Portugal (AANFP), em declarações à agência Lusa.
A predominância da vespa velutina é considerada um perigo a nível ecológico, ambiental e socioeconómico, uma vez que para além de abelhas, também se alimenta de outros insetos polinizadores, pondo em risco a biodiversidade, o processo de polinização vegetal e a produção de mel.
Diferenças entre a vespa comum e a vespa asiática
“Mais espertas que nós”
Os apicultores veem-se obrigados a montar armadilhas para reduzir o número de ataques e uma das técnicas mais comuns é atrair as vespas para o interior de garrafas, onde acabam por morrer.
“Uso fermento, sumo de pera, groselha, cerveja ou vinho branco e deixo fermentar para depois colocar em garrafas, com buracos. Elas são atraídas pelo cheiro, entram lá para dentro e depois não conseguem sair”, disse Alcides. Com a adaptação da espécie o apicultor afirma que esta é a técnica que obtém mais resultados. Anteriormente tentou infetar vespas para que contaminassem o ninho, mas rapidamente elas se adaptaram.
“Pincelávamos um bocadinho de produto entre as asas e quando elas regressavam ao ninho, as outras vespas limpavam-nas e acabavam todas por ficar infetadas e morrer. Mas agora elas adaptaram-se e não as deixam entrar no vespeiro. No início ainda resultava, mas elas são mais espertas do que nós”.
A complexidade do controlo da espécie levou a que fosse desenvolvido o “Plano de Ação para a Vigilância e Controlo da Vespa velutina em Portugal”, definido pela Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), em articulação com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, I. P. (ICNF) e com a colaboração do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, I. P. (INIAV). Os objetivos são “diminuir o impacto causado pela vespa asiática nas zonas onde já se encontra instalada e prevenir a disseminação da espécie a outras áreas”.
Caso detete uma vespa asiática ou um ninho deve reportar a situação através do site stopvespa.icnf.pt, via smartphone (APP SOS-Vespa) ou contactar a linha SOS AMBIENTE (808 200 520).