Costuma ter uma vontade enorme de ir à casa de banho durante a noite depois de uma maratona de séries? Aparentemente, a ciência diz que isso é normal. Um estudo publicado na revista Neurourology and Urodynamics veio confirmar que as pessoas ao verem televisão ou séries compulsivamente – binge-watching – sentem mais vontade de urinar a meio da noite.
O binge-watching, que consiste em ver mais de dois episódios seguidos de uma série, popularizou-se com o aparecimento dos serviços de streaming como a Netflix e a HBO.
O objetivo deste estudo foi investigar a relação entre o tempo de exibição da televisão e/ou vídeo e a noctúria em adultos. Ou seja, se o binge-watching causa mais vontade de urinar frequentemente durante a noite, o que obriga à interrupção do sono várias vezes durante a noite (o paciente deveria conseguir dormir de seis a oito horas seguidas).
Os cientistas apontam várias causas para a noctúria, entre as quais o consumo excessivo de líquidos, distúrbios no sono ou a obstrução da bexiga. A condição passa a ser mais frequente com o envelhecimento, afetando metade das pessoas com idade superior a 50 anos.
O despertar noturno impacta negativamente na qualidade do sono e na qualidade de vida. A privação de sono afeta o humor e a produtividade diária, podendo evoluir para um problema sério ao longo do tempo.
Segundo os autores do estudo “a noctúria não só aumenta a probabilidade de doenças como hipertensão, doenças cardiovasculares e mortalidade, mas também contribui para um fardo económico significativo para a sociedade”. Consequentemente, “a noctúria emergiu como um problema crítico de saúde pública, necessitando de atenção e intervenções abrangentes”.
A pesquisa baseou-se em dados já existentes do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES), registados de 2011 a 2016. Entre as pessoas que dormem mal estudadas, aproximadamente uma em cada três apresentou má qualidade de sono associada ao binge-watching. Este ato compulsivo de ver televisão é associado a sintomas de insónia, fadiga e má qualidade do sono. O estudo demonstrou que ver televisão de forma regular não está associado a uma má qualidade de sono, mas que ver televisão de forma compulsiva sim.
A investigação constatou que 31,86% dos 13 294 indivíduos dos Estados Unidos, com idade igual ou superior a 20 anos, relataram ter noctúria. Ou seja, 4 236 dos indivíduos relataram ter noctúria, enquanto que 9 058 (68,14%) não.
A análise mostrou que os indivíduos do grupo com maior tempo de visualização, mais de cinco horas, de formatos vídeo tiveram um risco significativamente maior (mais 48%) de desenvolver noctúria em comparação com aqueles do grupo com no máximo uma hora de tempo de visualização.
A pesquisa não provou que o tempo dispensado a ver televisão ou vídeos é uma causa direta de noctúria ou de perturbações noturnas. No entanto, os especialistas afirmam que aumentar a conscientização sobre os possíveis danos à saúde pode motivar as pessoas a serem mais cautelosas com o tempo passado à frente de ecrãs. As conclusões do estudo ressaltam a importância de considerar o tempo prolongado de televisão e indicam que pode ser um potencial fator de risco para sofrer desta patologia.
Numa geração de constante acesso e dependência de tecnologias assentes no formato vídeo, é crucial que os profissionais de saúde enfatizem os riscos associados ao tempo prolongado de televisão ou vídeo e ofereçam recomendações de intervenção comportamental, de forma a incentivar um comportamento adequado do tempo de ecrã, concluem os investigadores.