Apesar de existirem tantas e tão variadas possibilidades de ligações afetivas entre as pessoas – desde relações monogâmicas, abertas a outras relações, poliamorosas, casuais, à distância ou assexuais, por exemplo – na maioria, deverá existir um qualquer nível de desejo de compromisso entre os pares ou, pelo menos, de uma das partes.
Quando num namoro, por exemplo, uma das pessoas hesita em se comprometer, causa uma certa dose de desilusão, diminuindo também a confiança da outra.
Quando a indecisão e a falta de firmeza se vão revezando com atos esporádicos de atenção, embora inconsequentes e sem grande significado para a vítima, a isso chama-se crumbing (esmigalhar). O “deixar migalhas” (breadcrumbing) centra-se na forma de “levar alguém a usar chats online, em sites dedicados a encontrar o par ideal, para se manter interessado em si, mesmo que não tenha qualquer intenção de se envolver amorosamente com essa pessoa”. A definição é de Kelly Campbell, professora de psicologia na Universidade Estadual da Califórnia, em San Bernardino, com pesquisa feita sobre ligações instantâneas entre amigos e pares românticos e em como estar apaixonado ajuda e/ou prejudica o desempenho em várias áreas.
Num flirt, ao serem enviados sinais sociais de sedução para atrair um parceiro romântico, sem gastar muito esforço, não devem ser sinais comprometedores – essa é uma tática emocionalmente manipuladora que visa apenas fazer alguém ficar dependente do outro.
Intencional ou não, é considerada uma forma de manipulação “fingindo interesse e agindo como se se sentisse sinceramente interessado e investindo num relacionamento com outra pessoa, quando não está”, na opinião de Monica Vermani, psicóloga clínica e autora do livro A Deeper Wellness: Conquering Stress, Mood, Anxiety and Traumas (em português, Um bem-estar mais profundo: vencendo o stress, o humor, a ansiedade e os traumas).
À procura de validação
Mas, porque agem algumas pessoas de forma enganosa e deliberada? Muitas vezes, para obterem atenção, validação, controlo ou apenas as partes divertidas de um relacionamento, sem o tal compromisso que torna tudo mais sério. Ao manterem a outra pessoa sob rédea curta, fazem com que esta não procure outra relação mais estável, de confiança e verdadeira, e se mantenha esperançosa”, acrescenta Monica Vermani.
“Quanto mais interesse obtêm dos outros, melhor se sentem sobre si mesmos. Não se sentem confortáveis ou confiantes a menos que obtenham garantias constantes dos outros de que são dignos ou valiosos”, explica Kelly Campbell.
Também existirão casos, em que o dito manipulador, devido à sua educação e traumas, está em conflito sobre o que deseja ou sente-se desconfortável com a sua intimidade. São pessoas que se podem sentir inadaptadas e incapazes de manter relacionamentos saudáveis e autênticos.
“Deixar migalhas” é mais comum num narcisista: “Muitas vezes, esses indivíduos têm uma personalidade caracterizada pelo narcisismo, bem como uma abordagem superficial e divertida dos relacionamentos. Não se sentem culpados por manipular os outros e brincar com as emoções das pessoas”, reforça Kelly Campbell.
A ascensão dos encontros online, sempre escondidos ou protegidos pelo ecrã, tem feito com que fique mais fácil para as pessoas criarem breves ligações, que contenham alguma dose de afeto, através de uma mensagem de texto ou um comentário nas redes sociais.
Em contextos românticos, receber textos, poemas, playlists, elogios, conteúdo online sobre interesses comuns, longas mensagens de conquista e sedução ou mesmo perguntas sobre os familiares nem sempre são taxativas, sobretudo se ocorrerem de forma intermitente.
Também nas relações estabelecidas entre colegas de trabalho ou com outro género de amigos, “deixar migalhas” é prejudicial, sobretudo se durar muito tempo.
No escritório, por exemplo, oscilar entre receber elogios e promessas de promoção que nunca se concretizam mantém a esperança, mas com a sensação de desânimo. Entre dois amigos, um deles poderá demonstrar interesse em marcar um encontro, em viajar ou iniciar uma amizade genuína, mas depois, na realidade, só telefona quando precisa de alguma coisa em seu proveito.
Questionar porque a vítima aceita este tipo de maus-tratos será uma forma de reabilitar a sua auto-estima, impedindo os manipuladores de se manterem em ação.
Para Kelly Campbell, professora de psicologia, são quatro os sinais de alerta a que se deve estar atento ao manter um relacionamento online
-A pessoa em quem se está interessado investe menos para ficar por perto. Fazem planos em conjunto, mas cancela ou não aparece. Parecem sempre mais ocupados do que a outra parte e até ficam ausentes por períodos de tempo.
-Os manipuladores são inconsistentes e imprevisíveis, sem um padrão regular. A vítima nunca percebe bem em que pé está a relação com eles.
-Os manipuladores tanto podem ser afetuosos com a outra pessoa, como ficarem distantes e frios. Por exemplo, demorar muito para responder às mensagens pode demonstrar este tipo de mudança de comportamento.
-A interação com quem “deixa migalhas” leva a ficar-se confuso ou mesmo frustrado.