O “Napoleão”, de Ridley Scott, uma biografia desta figura histórica que conquistou uma grande parte da Europa no século XIX, só estreia esta quinta-feira, mas os trailers começaram cedo a dar que falar e a receber críticas, tudo por causa de incoerências históricas destacadas pelo mais atentos e conhecedores de História.
O filme é protagonizado por Joaquin Phoenix e mostra o militar estratega que combatia ao lado dos seus soldados, assim como seu lado mais privado e apaixonado. Contudo, os críticos não hesitam em torcer o nariz aos erros já revelados.
Origens
No trailer é sugerido que Napoleão tinha origens humildes, mas os historiadores recordam que o seu pai era aristocrata.
A idade de Napoleão
Existem momentos históricos que mostram Napoleão com mais idade do que aquela que realmente teria. É o caso da batalha 13 Vendémiaire, que deu fama ao general Napoleão Bonaparte, na altura com 26 anos. Contudo a sua representação física neste momento da película sugere um homem com mais de 40 anos, o que não corresponde à verdade – quando quatro anos depois, se tornou imperador, Napoleão tinha 30 anos.
A idade de Josephine
Também a idade da mulher de Napoleão na película não corresponde aos factos reais. No filme, esta mulher é representada por Vanessa Kirby com a sugestão de que seria mais nova do que o marido. Contudo, Josephine Bonaparte tinha 40 anos quando se tornou imperatriz, ou seja, tinha mais 10 anos do que o marido.
O cabelo de Maria Antonieta
No trailer vê-se imagens da execução de Maria Antonieta, com a rainha a ser encaminhada para a guilhotina enquanto usa uma peruca com longos cabelos brancos. Os especialistas em História destacam que, na execução, Maria Antonieta não levava a peruca e tinha os cabelos cortados curtos. Além disso, ao contrário do que mostra a película, Napoleão não estava presente na execução.
Batalha com vista para as pirâmides
A Batalha das Pirâmides de 1798 parece ser palco de um dos momentos do filme. No trailer surge um combate com as pirâmides do Egito como fundo, mas os historiadores destacam que os combates não aconteceram perto destes monumentos históricos.
O recurso a armas de fogo
No filme, vê-se os soldados franceses a forçar a entrada no Palácio das Tuileries com recurso a armas de fogo, o que constituiu outra incorreção histórica. Napoleão apenas usou armas de fogo contra a população na batalha 13 Vendémiaire. Nas outras ocasiões preferiu outras vias, como mudanças na legislação ou deportações em massa, para cimentar o seu poder.
O cerco de Toulon
No filme, o sucesso do cerco de Toulon é atribuído a Napoleão, que não deveria participar nesta manobra militar. Diz-se que o comandante Dommartin insistiu para que Napoleão fosse chamado para esta missão, mas, na realidade, os dois homens nunca tiveram uma boa relação e Napoleão apenas comandou as tropas neste cerco durante um curto período de tempo, logo não há razão para ser considerado um herói deste evento militar.
Representação militar incorreta
Após a vitória na Batalha de Toulon, em 1973, Napoleão foi promovido a brigadeiro-general e comandante da artilharia do Exército de Itália. Ainda assim, no filme ele não surge com as novas insígnias e uniforme em eventos posteriores a esta promoção.
A resposta de Ridley Scott às críticas
No geral, a crítica especializada tem elogiado esta produção. Contudo, o mesmo não se passa quando se fala no mercado francês. A revista “GQ” de França descreve o filme como “desajeitado, antinatural e involuntariamente engraçado”, o Le Figaro diz que a película podia ser chamada “Barbie e Ken no Império” e a revista Le Point apresenta uma entrevista a um biógrafo de Napoleão, Patrice Gueniffey, que diz que o filme é “anti-França e pró-Reino Unido”.
Em entrevista à BBC, Ridley Scott reagiu aos comentários depreciativos. “Os franceses nem gostam deles próprios”, começou por dizer. “A audiência que viu o filme em Paris adorou-o”. Ao “The New Yorker”, o realizador deixou uma mensagem aos críticos: “Arranjem uma vida!”.
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