Um novo estudo publicado na revista científica Nature revelou novas descobertas sobre a estrutura das estrelas-do-mar. A forma distinta destes seres vivos despertou ao longo dos anos o interesse dos cientistas, por não ser semelhante a mais nenhum animal – com uma uma constituição de frente, trás, cabeça e patas. Agora, a nova investigação baseada na genética sugere uma explicação para a forma “estranha” destes seres vivos: de acordo com os investigadores, as estrelas-do-mar são, em grande parte, cabeças sem qualquer tipo de tronco ou cauda – tendo perdido essas características durante a evolução da espécie.
As estrelas-do-mar são animais equinodermes – tal como os ouriços do mar – que nascem da eclosão de ovos fertilizados, transformando-se inicialmente em larvas que flutuam no oceano – como plâncton – antes de se fixarem no fundo do mar e desenvolverem num corpo bilateral em forma de estrela. São conhecidas pelos seus corpos simetricamente divididos em cinco secções – mais conhecidas como os “braços” das estrelas – que lhes permitem deslocar-se no fundo do mar.
Através de micro-tomografias computadorizadas um grupo de especialistas da universidade de Stanford observou a constituição das estrelas-do-mar de forma tridimensional o que lhes permitiu analisar o seu tecido genético e identificar sequências específicas nas células das estrelas. A partir destes dados foi possível construir um mapa genético 3D das estruturas das estrelas-do-mar e, assim, determinar que genes estão associados ao desenvolvimento das estrelas-do-mar, que incluem a pele e o sistema nervoso. “Se retirarmos a pele de um animal e observarmos os genes envolvidos na definição da cabeça e da cauda, os mesmos genes codificam estas regiões do corpo em todos os grupos de animais. Por isso, ignorámos a anatomia e perguntámos: Haverá um eixo molecular escondido sob toda esta estranha anatomia e qual é o seu papel na formação de um plano corporal numa estrela-do-mar?”, questionou Christopher Lowel, um dos investigadores envolvidos no estudo.
Os marcadores moleculares das estrelas-do-mar foram ainda comparados com os de animais deuterostómios – um grupo animal que inclui tanto vertebrados como equinodermes e com antepassados comuns aos das estrelas-do-mar – o que permitiu aos cientistas comparar diretamente o seu desenvolvimento. De acordo com os resultados obtidos, as assinaturas genéticas associadas ao desenvolvimento da cabeça foram detetadas em toda a estrutura das estrelas-do-mar, estando especialmente concentradas no centro da estrela e em cada “braço”. Não foram encontradas, contudo, expressões genéticas associadas ao tronco ou cauda, o que mostra que as estrelas-do-mar possuem uma dissociação destas regiões.
As revelações, possíveis graças aos métodos de sequenciação genética, podem ajudar a responder a algumas das maiores questões sobre os equinodermes, incluindo a sua ascendência comum a outros animais, nada semelhantes a eles. “A nossa investigação diz-nos que o plano corporal dos equinodermes evoluiu de uma forma mais complexa do que se pensava e que ainda há muito para aprender sobre estas criaturas intrigantes”, explicou Jeff Thompson, investigador envolvido no estudo.
Esta investigação foi financiada por pela organização sem fins lucrativos Chan Zuckerberg Bio Hub – fundada em 2021 por Priscilla Chan e Mark Zuckerberg, o dono na Meta – e contou com o apoio da NASA, da National Foundation e do Fundo Leverhulme.