Mamadou Ba foi hoje condenado a pena de multa – no valor de 2.400 euros – pelo crime de difamação ao neonazi Mário Machado. O tribunal considerou que o ativista antirracista chamou “assassino” a Machado, o que “denegriu” e “diminuiu o arguido na sua honra e reputação”, causando “impacto” na sua vida e na da sua família, nomeadamente filhos e mãe.
A sentença da juíza Joana Ferrer condenou Mamadou Ba – que ouvi a sentença à distância (ja se encontra no Canadá, país onde reside e trabalha) – a 240 dias de multa, no valor de 10 euros por dia. A defesa já anunciou que vai decorrer.
Recorde-se que na origem do processo esteve um texto publicado, no Facebook, por Mamadou Ba, no dia 14 de junho de 2020, em que este voltou a considerar Mário Machado “uma das figuras principais do assassinato de Alcindo Monteiro” – assassinado, na Rua Garret, em Lisboa, no dia 10 de junho de 1995, por militantes da extrema-direita.
Na publicação, o luso-senegalês criticava os acontecimentos ocorridos quatro dias antes (no feriado do dia 10), quando um grupo de neonazis decidiu organizar uma ação nacionalista, no Largo do Chiado, precisamente ao mesmo tempo em que decorria uma homenagem a Alcindo Monteiro, por ocasião dos 25 anos da sua morte, a somente 200 metros de distância.
A ação nacionalista contou com a presença, entre outros, de João Martins, condenado a 17 anos pelo homicídio de Alcindo. Naquela rede social, Mamadou Ba denunciou a provocação e lamentou o facto de João Martins ter passado, todos estes anos, “pelos pingos da chuva do escrutínio público”, longe dos olhares mediáticos, ao contrário de outro parceiro ideológico, Mário Machado, que o autor do texto descreveu como “uma das figuras principais do assassinato de Alcindo”.
Mário Machado fazia, de facto, parte do grupo de extrema-direita que, no dia 10 de junho de 1995, se reuniu ao jantar e, nessa noite, decidiu espalhar o terror pelas ruas de Lisboa, agredindo e matando indivíduos de raça negra. O conhecido neonazi acabaria condenado, sim, mas “apenas” por oito crimes de ofensas corporais com dolo de perigo, pelos quais cumpriria quatro anos e três meses de prisão. O seu nome não seria relacionado com os factos que resultaram na morte de Alcindo.
Tensão à saída entre Mário Machado e ativistas antirracistas
Ao contrário das sessões anteriores, a juíza Joana Ferrer não permitiu que todos os presentes assistissem à leitura da sentença dentro da sala de audiências. No exterior do edifício, no Campus da Justiça, cerca de três dezenas de ativistas antirracistas concentraram-se e, no final, protestaram alto e bom som com a decisão do tribunal.
A presença destes apoiantes de Mário Machado levou à presença musculada de perto de 20 polícias, que procuraram o escalar de tensões. À saída, Mário Machado foi recebido com gritos de “assassino”, e chegou a confrontar quem se manifestava, afirmando que “as ruas são nossas”, e saindo pelo meio da multidão. Apesar das trocas de “bocas”, a situação ficou-se por aí.
Dois agentes da PSP acompanharam Mário Machado até a um local mais afastado.