Um estudo recente publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences revelou novos dados sobre as vítimas da pandemia de gripe espanhola de 1918. Para a investigação – que juntou especialistas da Universidade de McMaster, no Canadá, e da Universidade de Colorado Boulder, nos EUA – foram examinados os restos mortais de 369 pessoas, guardados no Museu de História Natural de Cleveland. Embora exista a ideia de que a pandemia tenha vitimizado sobretudo jovens, idosos e doentes, os novos dados sugerem que o vírus influenza tenha atacado jovens saudáveis tão facilmente como pessoas mais frágeis e doentes crónicos. Conhecida como uma das mais mortais da história, a gripe espanhola de 1918 matou cerca de 50 milhões de pessoas, cerca de 1,3% a 3% da população mundial.
Do total de 369 restos mortais analisados, a amostra foi dividida em dois grupos: um primeiro com 288 ossadas de pessoas que morreram antes da pandemia, e um segundo de 81 pessoas que morreram durante o surto de influenza. Guardados em gavetas no Museu de História Natural de Cleveland, foi possível identificar os nomes, idades e ano da morte de cada corpo analisado. Dados que se revelaram úteis para os investigadores e que lhes permitiram determinar as idades dos que morreram vítimas da gripe espanhola – vinte e seis tinham entre os vinte e os quarenta anos de idade.
O grupo de especialistas examinou todas as ossadas para procurar indicações de stress ou inflamação, fatores causados por trauma físico, infeções ou malnutrição. “O nosso estudo mostra que as pessoas com estas lesões ativas são as mais frágeis. Comparando quem tinha lesões e se essas lesões estavam ativas ou a cicatrizar na altura da morte, obtemos uma imagem daquilo a que chamamos fragilidade, ou seja, quem tem mais probabilidades de morrer”, explicou Sharon DeWitte, antropóloga biológica da Universidade do Colorado e uma das autoras envolvidas no estudo.
Os resultados concluíram que pessoas cujos ossos se mostraram mais frágeis quando infetadas – quer fossem jovens adultos ou pessoas mais velhas – eram as mais vulneráveis. Deste modo, os investigadores concluíram que pessoas que sofriam de doenças crónicas ou de deficiências nutricionais tinham mais probabilidades de morrer do que as que não tinham essas condições, independentemente da sua idade.
“Utilizamos uma abordagem bio-arqueológica, combinando informações individuais sobre saúde e stress obtidas a partir dos restos mortais de indivíduos que morreram em 1918, para determinar se os indivíduos saudáveis estavam a morrer durante a pandemia de 1918 ou se a fragilidade subjacente contribuía para um maior risco de mortalidade”, pode ler-se no estudo.
Apesar das conclusões alcançadas não surpreenderem os especialistas, o estudo apresenta algumas limitações. Sendo uma análise ligada a um determinado tempo e lugar – uma vez que foram analisados corpos encontrados só em Ohio – a pesquisa apenas recolheu dados específicos da cidade em questão. Ademais, foram apenas considerados dados das vítimas da pandemia, não sendo possível recolher informações sobre os sobreviventes da mesma, para uma futura comparação.