O espaço é o infinito e com ele surgem um conjunto de mistérios que estão a ser desvendados. A História do Universo em 100 Estrelas é um livro que ajuda a conhecer algumas das principais estrelas que compõem o céu que ambicionamos conhecer.
Florian Freistetter, autor do livro, é doutorado em Astronomia pela Universidade de Viena. Vencedor do IQ Award pelo seu trabalho como investigador, lançou em 2008 o blogue de astronomia Astrodicticum simplex, um dos blogues científicos mais lidos da Alemanha.
Esta semana apresentamos a estrela Algol, conhecida por ser a estrela do diabo.
A História do Universo em 100 Estrelas
Algol: A estrela do diabo

Algol não tem boa reputação. Esta estrela, que se encontra a 90 anos-luz de distância e se pode vislumbrar até a olho nu na constelação de Perseu, recebeu muitos nomes ao longo do tempo. Na Grécia Antiga chamava-se Gorgonea Prima, por causa das górgonas, os terríveis monstros mitológicos femininos aos quais cresciam serpentes em vez de cabelo e que podiam converter em pedra tudo aquilo para onde olhavam. O seu nome em árabe é Ra’s alġūl, «cabeça do demónio», e mais à frente reduziu-se para Algol. Foi chamada estrela do diabo ou espetro, e na astrologia medieval era uma das estrelas portadoras de má sorte.
Mas o que é que lhe deu a sua reputação? Porque é que Algol é o monstro entre todas as estrelas do firmamento? Porque não segue as normas! As restantes estrelas da esfera celeste brilham tranquila e continuamente; pelo contrário, Algol parece variar, torna-se mais luminosa e depois mais escura de uma forma que se distingue com clareza até sem recursos técnicos. No decorrer de apenas três dias o seu brilho varia de tal forma que há dois mil anos deve ter, sem dúvida, tirado o sono a mais de uma pessoa.
É que naquela altura ainda não se tinha uma ideia muito precisa daquilo que acontecia no céu. Não se sabia qual era a verdadeira natureza das estrelas. Com frequência, o firmamento fazia parte de um mundo imaginário misterioso e mítico e não eram poucos os que consideravam que o que nele acontecia eram mensagens dos deuses. O estudo das estrelas permitia vislumbrar o futuro, anunciava a chegada de fenómenos de especial importância, quando era preciso contar com catástrofes e quando podiam surgir inesperadamente a guerra, a morte e a destruição sobre os homens. E uma estrela como Algol, que se comportava de forma totalmente diferente do resto, não se acalmava e umas vezes era brilhante e outras escura no firmamento, deve ter não só chamado poderosamente a atenção das pessoas, como também as deve ter inquietado.
Hoje em dia sabemos o que se passa com a Algol: não são os demónios e os diabos que fazem das suas, pois ali há mais do que uma estrela. Trata-se de um sistema estelar triplo, no qual duas das estrelas giram uma em redor da outra: uma de grande tamanho e cem vezes mais brilhante do que o nosso Sol; a outra, muito menos luminosa. Quando vemos as duas estrelas juntas é quando nos chega mais luz da Algol. Se uma oculta a outra, a luminosidade total diminui.
Trata-se daquilo a que chamamos uma estrela variável eclipsante, ou seja, cujo brilho não varia devido a processos próprios, pois deve-se apenas ao facto de serem duas estrelas que se ocultam alternadamente. Este fenómeno pode observar-se uma e outra vez e Algol deu nome a toda uma categoria de corpos celestes parecidos: as variáveis Algol. Na verdade, existem até indícios concretos de que o seu estranho comportamento já aterrorizava as pessoas há mais de três mil anos: num papiro egípcio descoberto em 1943 encontrou-se um calendário de prognósticos, ou seja, uma espécie de lista de dias bons e maus. Um estudo exaustivo deste calendário revelou que se alternam dias de boa e má sorte com uma periodicidade de 2,9 dias, o que corresponde com bastante precisão ao período em que a luminosidade de Algol varia. Claro que se poderia tratar de uma coincidência, mas talvez também servisse na época para prognosticar calamidades. E, depois de tanto tempo a carregar com essa má fama, Algol dificilmente poderá livrar-se dela.