O espaço é o infinito e com ele surgem um conjunto de mistérios que estão a ser desvendados. A História do Universo em 100 Estrelas é um livro que ajuda a conhecer algumas das principais estrelas que compõem o céu que ambicionamos conhecer.
Florian Freistetter, autor do livro, é doutorado em Astronomia pela Universidade de Viena. Vencedor do IQ Award pelo seu trabalho como investigador, lançou em 2008 o blogue de astronomia Astrodicticum simplex, um dos blogues científicos mais lidos da Alemanha.
Esta semana apresentamos as Estrelas com Cabeleira, consideradas precursoras da morte e embaixadoras do passado.
A História do Universo em 100 Estrelas
Estrelas com Cabeleira: Precursoras da morte e embaixadoras do passado
Antes, quando viam estrelas com cabeleira no firmamento, as pessoas sentiam-se desconcertadas, pois não estavam habituadas a observar algo assim. Em vez dos habituais pontos luminosos que eram as estrelas e os planetas, o que se via era algo indómito, parecido com uma nuvem que arrastava uma longa cauda e pairava ameaçadoramente sobre a Terra. Apareciam sem aviso prévio e desvaneciam-se da mesma forma. Chamaram a esses objetos estrelas errantes ou erráticas e estrelas com cauda. Ou cometas, do grego κόμη (kómē), que designa o cabelo da cabeça.
O que são estas estrelas e a sua cabeleira é algo que não se soube durante muito tempo. Por exemplo, o erudito grego Aristóteles achava que não eram corpos celestes, mas sim fenómenos luminosos que aconteciam na atmosfera. No século xvii chegou-se à conclusão de que o aparecimento destes cometas não podia ser nada bom. «Febre alta, doença, pestilência e morte, tempos difíceis, penúria e fome, muito calor, seca e esterilidade, guerras, roubos, incêndios, assassinatos, revoltas, invejas, ódios e disputas, geadas, frio, tempestades, mau tempo, falta de água, grandes perdas humanas e morte, fogo e terramotos» vinham atrás de um cometa, de acordo com a citação de um poema do pastor alemão e astrónomo Johann Gottfried Taust em 1681.
Do ponto de vista da época, o mal-estar era completamente compreensível. Afinal de contas, as estrelas pareciam estar fixas no firmamento. E, embora os planetas se movessem, faziam-no de uma forma que mesmo naquela altura era medianamente previsível. Os cometas eram os únicos que não pareciam sujeitar-se a nenhuma norma. O seu aparecimento e desaparecimento escapava a qualquer previsão ou explicação.
Só com a teoria matemática da gravidade de Isaac Newton é que se pôde demonstrar que os cometas também orbitavam à volta do Sol. Mas tratava-se com frequência de órbitas muito estendidas, não as
próximas nas quais os planetas se movem. Os cometas podem estar muito longe do Sol e o único momento em que podemos vê-los é quando se encontram suficientemente perto dele.
Hoje sabemos que os cometas são escombros da era em que os planetas do sistema solar se formaram. Há 4500 milhões de anos, quando a poeira e o gás que se encontravam perto do Sol foram formando corpos celestes de tamanho cada vez maior e no fim deram lugar aos planetas, sobrou um pouco de material, fragmentos de rochas e gelo, em geral de um tamanho não superior a alguns quilómetros. De entre
estes fragmentos, aqueles que contêm muito material congelado chamam-se cometas. E quando passam perto do Sol o gelo aquece, converte-se em gás e sai disparado para o Universo. Ao fazê-lo, arrasta poeira
da superfície do cometa, que a partir desse momento o envolve. Este grande invólucro de poeira, a coma, é capaz de refletir a luz do sol e o corpo celeste, na verdade pequeno, é visível para nós. A poeira também
pode formar a típica cabeleira de um cometa, aquela que lhe proporciona essa imagem tão única no firmamento.
Hoje em dia, praticamente já não se considera os cometas um mau augúrio (mesmo que continue a existir quem os considere precursores do fim do mundo, um sinal de Deus ou de naves extraterrestres). Para
nós, pelo contrário, são valiosos emissários do passado, os últimos sobreviventes de um tempo muito longínquo, no qual o sistema solar ainda era jovem e não tinha planetas. O seu estudo pode revelar-nos
muitos aspetos sobre como tudo começou. Os cometas não são precursores da morte, mas sim embaixadores da nossa origem.