Desde 1976 que há duas versões para um facto que poucas pessoas conhecem: a fragata Gago Coutinho, que ia a caminho de uma missão da NATO, na madrugada de 25 de abril de 1974, foi mandada posicionar-se em frente ao Terreiro do Paço, para travar o despertar da Revolução. Se o comandante do navio, Seixas Louçã, e alegadamente os oficiais, após o sucesso da operação dirigida por Salgueiro Maia, não divergiam muito na história do que aconteceu naquele dia, dois anos depois vieram à tona descrições completamente opostas. Até hoje, a família Louçã, encabeçada por Francisco, ex-líder do BE, aponta baterias para o grupo de oficiais, que, concluído o Auto de Averiguações, alegou que só uma insubordinação às ordens do comandante e um contacto direto com o Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas (MFA) evitaram o pior naquele dia. À VISÃO, o capitão de mar e guerra António Moura, um desses oficiais revoltosos e um dos três elementos da guarnição que pertenciam ao MFA, lembra o que aconteceu nessa manhã, quando nada mais terá restado ao comandante do que regressar com o navio ao Alfeite e aceitar os acontecimentos da História. Segundo este oficial, de 75 anos, do grupo de insubordinados – dos quais cerca de metade já morreu –, se a guarnição tivesse seguido as ordens dadas, o País podia hoje ser muito diferente.
Acho engraçado, nesta entrevista, ter aqui ao nosso lado este navio em miniatura, feito de madeira. Ainda por cima, quando vamos falar sobre o que aconteceu, há quase 50 anos, naquela fragata…
Foi construído pelo meu pai, um sargento-artífice, condutor de máquinas na Marinha. Nessa altura, eu teria uns 6 anos, quando chegámos a Lisboa.