Em Espanha, as pessoas estavam a abandonar a cidade de Pontevedra, pois os automóveis estavam a sufocar a vida do seu centro medieval. Determinado a salvar a localidade dos fumos, congestionamento e das mortes na estrada, o presidente da câmara apresentou um plano radical para devolver a cidade aos peões.
Corria o ano de 1999 quando Miguel Anxo Fernandez Lores, presidente da câmara de Pontevedra, tornou pedonais todos os 300.000 metros quadrados do centro da cidade. “Antes não se conseguia ouvir ninguém a falar, agora consegues”, contou Lores à Euronews, em setembro do ano passado. Pontevedra decidiu reduzir o número de carros que podiam entrar e apenas os “veículos essenciais” foram autorizados a entrar no centro da cidade.
Os carros deixaram de poder atravessar a localidade e o estacionamento na rua acabou porque um estudo mostrou que a maior parte do congestionamento era causado por pessoas à procura de um lugar para estacionar.
“Há 11 anos que não se registam acidentes mortais. A poluição foi reduzida para meia tonelada por pessoa e por ano. E a qualidade de vida melhorou imenso”, afirmou Lores, nas mesmas declarações à Euronews.
Em linha com o acontece por toda a Europa, rumo a países ambientalmente mais conscientes e de forma a cumprir os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, o governo espanhol adotou, em maio de 2021,o Climate Change Law. A diretiva engloba uma série de determinações que têm como objetivo garantir a neutralidade carbónica do país em 2050.
Para tentar replicar o sucesso de Pontevedra, o Executivo estabeleceu a introdução de zonas de baixas emissões em 147 cidades para restringir a poluição, o congestionamento e o ruído. “Aprovámos uma lei que obriga as câmaras municipais a criar zonas de baixas emissões nos centros das cidades, mas a forma como isto é feito depende das autoridades individuais”, informou um porta-voz do Ministério do Ambiente aquando da apresentação do plano.
De acordo com o mesmo documento, as cidades com mais de 50 000 habitantes, além de Madrid e Barcelona, foram obrigadas a pôr em marcha, durante este ano, planos para estas zonas. As duas maiores cidades espanholas já adotaram medidas para limitar os automóveis que consomem muita gasolina, geralmente os mais antigos – à semelhança do que acontece em Lisboa, que travou a entrada de veículosanteriores a 2000, ou em Londres, onde os veículos mais poluentes têm de pagar uma taxa para circular no centro da capital do Reino Unido.
Uma sondagem do El Diario, publicada a 20 de setembro do ano passado, revelou que 70% dos espanhóis apoiavam a limitação do consumo de energia, a restrição da utilização de automóveis nas cidades e o aumento dos impostos sobre as atividades mais poluentes.
Outra sondagem publicada a 22 de setembro do mesmo ano, da Clean Cities Campaign, aliada dos Ecologists in Action, revelou que 62% dos residentes em Barcelona, Paris, Londres, Bruxelas e Varsóvia apoiavam a proibição de circulação de automóveis nas cidades em alguns dias da semana para reduzir a dependência do petróleo.
O tema, que parece relativamente consensual, voltou a estar na agenda durante a campanha para as eleições legislativas no país, que tiveram lugar no mês passado, e onde se destacou o programa do partido de extrema-direita VOX, em cujo programa eleitoral propunha voltar atrás em muitas das medidas já tomadas em prol do combate às alterações climáticas.
Recorde-se que o Rei Filipe VI convidou, esta terça-feira, Alberto Nuñez Feijóo, líder do Partido Popular, a formar Governo, justificando a decisão com o facto de ter sido o partido mais votado. O PSOE ainda não atirou a toalha ao chão e garante que tem o apoio de mais parlamentares. A data para a investidura do próximo Governo ainda não está marcada.