Não falta muito para o fim do verão, mas a preocupação com a segurança dos mergulhos, tanto no mar como em piscinas, mantém-se, já que, se forem mal planeados, podem levar a consequências graves e permanentes.
Estima-se que, todos os anos, cerca de 100 portugueses sofram lesões na coluna devido a mergulhos mal dados. “As lesões que nos preocupam mais são as vertebro-medulares, que surgem quando ocorre um traumatismo violento sobre a cabeça e pescoço, habitualmente quando o mergulho é realizado de cabeça em locais pouco profundos”, explica à VISÃO Rui Duarte, Diretor do Serviço de Ortopedia do Centro Hospitalar do Médio AVE, em Santo Tirso. Em algumas circunstâncias, este traumatismo provoca fratura da coluna cervical e, subsequentemente, lesão da medula cervical, com lesão neurológica associada, “grande parte das vezes permanente”, afirma o especialista.
A grande maioria das vítimas são jovens do sexo masculino, com idades inferiores a 30 anos, e as lesões acontecem muitas vezes em atividades em grupo, esclarece Rui Duarte. Portanto, neste contexto, “é fundamental levar estas campanhas de informação às escolas e universidades. Informar precocemente”, afirma o médico. “É um trabalho contínuo que deve ser mantido e até intensificado”, garante.
Prevenção é a chave
De acordo com o especialista, é essencial adotar alguns comportamentos que ajudem a evitar a ocorrência destes acidentes. “Em primeiro lugar”, esclarece, deve-se evitar mergulhar em locais não apropriados, tais como “zonas rochosas, margens de lagos ou rios”. “Com o passar do inverno, há alteração do leito subaquático (pedras, destroços de árvores) e, nesse sentido, devemos verificar sempre a profundidade e a superfície antes de mergulhar”, afirma ainda.
Além disso, diz Rui Duarte, é importante que os mergulhos sejam realizados “sempre com os pés em primeiro lugar”. “Só depois de conhecer o local, a profundidade e a própria topografia pode ser realizado um mergulho de cabeça com segurança”, declara. A profundidade ocupa um papel muito relevante no que diz respeito aos megulhos, sendo que “uma boa profundidade situa-se genericamente no dobro da nossa altura”, afirma o médico.
Já em piscinas, o mergulho deve ser realizado no sentido do maior comprimento da piscina, já que muitas lesões são provocadas pelo impacto nas paredes laterais. “É importante ainda estar consciente de que deve evitar o consumo de álcool e drogas quando for nadar ou mergulhar”, alerta o especialista.
Rui Duarte, que é também responsável pela campanha “Olhe pelas Suas Costas”, que pretende alertar para os perigos dos mergulhos, garante que, no que toca aos mergulhos seguros, ainda há um longo caminho pela frente. “As campanhas de alerta têm tido um papel importante. No entanto, ano após ano continuamos a assistir nos nossos hospitais a situações dramáticas associadas a este tipo de acidentes”, refere.
Além da prevenção, o especialista afirma que se deve apostar também na prática. “No que diz respeito à vigilância, em praias e piscinas vigiadas talvez devesse existir um papel ativo por parte de nadadores salvadores sempre que ocorram mergulhos de cabeça em zonas de baixa profundidade”, remata o médico.