O espaço é o infinito e com ele surgem um conjunto de mistérios que estão a ser desvendados. A História do Universo em 100 Estrelas é um livro que ajuda a conhecer algumas das principais estrelas que compõem o céu que ambicionamos conhecer. Esta semana apresentamos a Antares: Penugem na superbolha.
Florian Freistetter, autor do livro, é doutorado em Astronomia pela Universidade de Viena. Vencedor do IQ Award pelo seu trabalho como investigador, lançou em 2008 o blogue de astronomia Astrodicticum simplex, um dos blogues científicos mais lidos da Alemanha.
A História do Universo em 100 Estrelas
Antares: Penugem na superbolha
No fundo, o Universo está bastante vazio. Além das estrelas, que se encontram dispersas a uma grande distância, no gigantesco espaço intermédio não há muita atividade. Porém, se se souber onde e o quê
procurar exatamente, fazem-se muitas descobertas capazes de captar a atenção da astronomia. Por exemplo, uns átomos de hidrogénio, não mais do que um punhado em cada centímetro cúbico do Universo.
Ou um ou outro átomo de hélio. Com um bocadinho de sorte, até se encontram vestígios de outros elementos químicos. Todas essas partículas dispersas chamam-se meio interestelar, e vale a pena reparar um pouco mais nele.
É aí, onde o meio interestelar é um pouco mais denso ou mais fino, que se escondem indícios de como funciona o Universo. É precisamente nas regiões mais densas, que parecem nuvens entre as estrelas, que podem nascer novas estrelas. E foi aí, nos espaços onde o meio interestelar é muito menos denso do que em qualquer outro lugar, que as estrelas agonizantes deram o seu contributo metafórico.
O nosso sistema solar encontra-se numa região a cerca de 300 anos‑luz, chamada bolha local. Aqui a matéria interestelar é muito pouco densa, só há praticamente hidrogénio e hélio, e quase nada de poeira interestelar, que é como se denomina a parte de matéria interestelar que não é composta por átomos individuais, mas sim por moléculas mais complexas, por exemplo, átomos de carbono que dão lugar ao grafite ou a minúsculas partículas de gelo. Estas moléculas surgem no local onde se formam planetas e a radiação que uma estrela emite pode lançá-las para longe no Universo.
E este também é o motivo pelo qual, nas bolhas locais, praticamente já não existe nada de poeira. Aqui, no decorrer dos últimos milhões de anos, algumas estrelas de grande tamanho devem ter terminado a sua vida. E quando morrem fazem-no com grandes explosões que varrem a poeira à sua volta e formam uma bolha local. Mas no centro desta bolha resta um bocadinho de poeira que recebe o nome de nuvem local ou penugem local. A enorme penugem tem um diâmetro de cerca de 30 anos-luz, e as responsáveis por ela são estrelas como Antares.
Esta é a estrela mais brilhante da constelação de Escorpião, facilmente reconhecível pela sua luz avermelhada e cuja vida já quase terminou. Inchou para se converter numa formidável estrela brilhante e, se a colocássemos no lugar do Sol, englobaria todo o sistema solar até muito para lá da órbita de Marte. mbora a sua vida como estrela já tenha quase chegado ao fim, a Antares é relativamente nova. Nasceu há cerca de 15 milhões de anos, mas as estrelas de massa muito elevada como ela são muito quentes, portanto, nos processos de fusão nuclear consomem o seu material muito mais rápido do que as estrelas pequenas como o nosso Sol.
Antares faz parte da chamada associação Escorpião-Centauro, um grupo de cerca de milhares de estrelas mais ou menos igualmente jovens e luminosas. Todas pertencem à mesma região de formação estelar e, tal como fazem as estrelas jovens, quando nascem levantam muita poeira e gás que ejetam para o Universo.
É precisamente por este material que se move o nosso sistema solar hoje em dia; para dizer a verdade, há cerca de 100 mil anos. Porém, ainda vai demorar algumas dezenas de milhares de anos a abandonar a penugem cósmica e a mover-se na região um pouco mais limpa da bolha local. Não obstante, para nós, habitantes do planeta Terra, a viagem pela penugem não tem consequências visíveis, já que entre as estrelas não há assim tanta matéria.