A mulher e a filha, de apenas sete meses, de Martin Junior Kenny – o líder do autodenominado Reino do Pineal –, estão, para já, à guarda das autoridades portuguesas, confirmou, à VISÃO, fonte ligada ao processo. Identificada por Royale Pinheiro (como é conhecida na seita), a segunda mulher do homem que responde pelo nome de Água Akbal Pinheiro terá sido levada para uma casa-abrigo, em local não apurado. As condições físicas da criança estão ainda a ser avaliadas.
Depois das buscas, que decorreram na passada terça-feira, na quinta rural onde esta seita está instalada, Martin Junior Kenny, Royale Pinheiro e a filha de ambos – nascida, em dezembro de 2022, naquela comunidade, após uma gravidez não acompanhada e um parto não assistido – foram levados para o posto da GNR de Oliveira do Hospital, onde permaneceram cerca de quatro horas, e lhes foi proposto que procedessem ao registo do nascimento da criança, o que recusaram liminarmente.
A decisão das autoridades portuguesas foi, então, transferir Royale e a filha para outro local. Martin foi autorizado a regressar a casa.
Num vídeo publicado no Youtube, o “líder” e “filósofo espiritual” do Reino do Pineal acusa o Estado português de ter “raptado” as familiares para lugar desconhecido. Visivelmente abatido, Martin Junior Kenny admite que “já não tem confiança no sistema de Justiça deste País”.
À VISÃO, Água Akbal Pinheiro voltou a acusar as autoridades portuguesas de “intimidação, ameaças e violência” e confirmou que a filha (e consequentemente a mulher) foi “levada à força”, depois de uma decisão da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ).
“A última vez que falei com ela [Royale] foi num telefone, breve, de cinco minutos, às 11h do dia 1 de agosto, ela disse-me que estava com medo e confusa (…). Quando lhe perguntei quando poderia regressa a casa, disse-me que só depois de ser ouvida pelo tribunal”, disse.
Processo à morte de criança de 13 meses
Recorde-se que as buscas – conduzidas pela Polícia Judiciária (PJ), e que contaram com o apoio da GNR e do SEF e ainda com a participação de entidades da Segurança Social e da Saúde – decorreram, durante todo o dia de terça-feira, no âmbito de um inquérito aberto pelo Ministério Público (MP), e que corre no Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Coimbra, na sequência da notícia, avançada pela VISÃO, da morte de uma criança de apenas 13 meses naquele local, em março de 2022, aparentemente sem assistência médica – o terceiro filho de Martin Junior Kenny e da sua primeira mulher, Gabriela Luna Pinheiro, uma cidadã polaca com quem o guru tem ainda mais dois filhos, morreu de causas desconhecidas. Os membros da comunidade cremaram o corpo da criança e lançaram as suas cinzas ao rio Mondego.
Segundo avançou o Expresso esta sexta-feira, o Ministério Público já constituiu arguidos os pais do bebé. Em causa, pode estar a prática dos crimes de homicídio negligente ou por omissão e profanação de cadáver.
Ouvidas pelas autoridades, os membros desta comunidade – que chegaram a ser perto de 100 pessoas, mas que, agora, serão menos de 20 – garantiram “estar [na seita] de livre vontade”. Foi ainda confirmada a presença de cinco menores no local, três dos quais bebés, com menos de dois anos. Pequenas quantidades de droga (canábis e cogumelos alucinógenos) também foram encontradas.
Não houve detenções. E as investigações prosseguem.
Onde está a portuguesa Maria Madalena de sete meses?
Desconhece-se, para já, o paradeiro de outra criança, também nascida no interior daquela seita. Falamos de Maria Madalena, filha da única portuguesa que ainda permanece no Reino do Pineal – Cátia Guerreiro, que responde pelo nome de Lila Pinheiro. A VISÃO sabe que, no dia das buscas, nem Cátia nem a filha foram encontradas pela polícia.
Recorde-se que esta criança está no epicentro de um processo na Justiça. Como também avançou a VISÃO, os avós de Aurora e Manuel Guerreiro (pais de Cátia) avançaram com um pedido de promoção e proteção de menores com vista a garantirem a guarda da menina de apenas sete meses. A criança, nascida em dezembro de 2022, foi, entretanto, registada na Conservatória do Registo Civil de Loulé, pelos avós, à revelia dos pais).
O Reino do Pineal – uma seita instalada numa quinta rural em Seixo da Beira, município de Oliveira do Hospital, propriedade do futebolista internacional dinamarquês Pione Sisto – tem despertado a atenção do País, desde que a VISÃO contou a história completa do grupo, na sua edição do passado dia 13 de julho.