Ayrton é de poucas palavras e ainda de menos sorrisos. Recebeu-nos com um distante aperto de mão e alguma desconfiança, mas, à medida que o tempo passava, os olhos deixaram escapar o que o rosto se recusava a mostrar: entusiasmo e esperança. Tem 22 anos e entrou no Estabelecimento Prisional de Leiria (Jovens) – a antiga prisão-escola, inaugurada em 1946 – há cerca de quatro. Por “tráfico e roubo”, diz-nos com olhar de desafio e sem nos perder de vista. Estamos sentados num banco de pedra, num dia de sol que nos queima o rosto e de costas voltadas para os cerca de seis hectares de vinha, que tornam esta propriedade uma das mais apetecíveis para os tubarões do imobiliário. No entanto, não há qualquer plano para que o EPL Jovens deixe de ser exatamente o que tem sido até à data: um espaço de recuperação, de formação e de inclusão para aqueles que aqui entram e que têm ainda uma vida inteira pela frente.
Este é o único estabelecimento prisional do País destinado ao internamento de reclusos jovens adultos, com idades entre os 16 e os 21 anos – e que ali podem permanecer até aos 25. Atualmente, vivem na Quinta do Lagar d’El Rei, a propriedade que alberga o EPL, 196 jovens reclusos, confirma à VISÃO a diretora da instituição, Joana Patuleia. Mas voltemos ao banco de pedra em que Ayrton ainda nos olha, concentrado. Pedimos-lhe que nos fale dos planos que tem para quando terminar de cumprir a pena de cerca de seis anos, que o trouxe até aqui. “Ainda não sei exatamente o que quero fazer. Mas quero ir descobrir isso quando sair. Quero estudar as minhas opções e ver o que faz sentido. Não quero voltar à minha vida de antes”, garante. No EPL Jovens, Ayrton Cardoso concluiu o 12º ano e, tendo optado pela área de Multimédia, garantiu um certificado em cibersegurança.
