Um dos grandes receios das mulheres acerca da sexualidade durante a gravidez é a segurança das relações ou de quaisquer práticas sexuais, por medo de que possam provocar um aborto espontâneo, por exemplo. Mas Megwyn White, Sexóloga e Diretora de Educação da Satisfyer, marca de produtos de estimulação sexual, descansa-as.
“A maioria dos abortos espontâneos deve-se a anomalias cromossómicas ou a qualquer outro problema com o feto em desenvolvimento”, diz a especialista, em entrevista à VISÃO, acrescentando que “é perfeitamente seguro ter relações sexuais, desde que não exista indicação contrária por parte dos profissionais de saúde”. “Felizmente, o pénis não pode atravessar além da vagina e o bebé não será de todo incomodado”, acrescenta.
Um estudo recente descobriu, também, que o sexo não induz um trabalho de parto prematuro, a não ser que o corpo esteja pronto para o parto. Por isso, garante a sexóloga, “o sexo é uma ótima maneira de a mulher grávida e o seu parceiro se manterem ligados durante a gravidez e deve ser explorado se for essa a vontade do casal”.
Hormonas ajudam
À medida que as hormonas vão variando com a gravidez, em particular com o aumento dos estrogénios e da progesterona, a mulher pode sentir mais vontade de ter relações sexuais, embora o contrário também aconteça com regularidade, diz White.
“Além disso”, explica, durante a gravidez “pode até ser mais fácil ter um orgasmo e sentir prazer, especialmente no segundo trimestre, em parte devido às alterações hormonais e também ao facto de o volume de sangue do corpo aumentar até 40 ou 50%”. “Grande parte do sangue desloca-se naturalmente para os órgãos genitais, tornando-os ainda mais sensíveis e inchados”, afirma.
Contudo, White relembra “que cada gravidez é diferente e que o melhor será ter em atenção os sinais do corpo”. “É também normal existirem algumas manchas depois das relações sexuais devido à irritação do colo do útero, mas se forem persistentes é preferível consultar um profissional de saúde”, aconselha.
“O parto reflete o cocktail hormonal do orgasmo. Por isso, manter-se sexualmente ativa é uma coisa boa para ajudar no processo de nascimento”, afirma ainda.
Brinquedos sexuais durante a gravidez: sim, mas com cuidados
De acordo com White, a masturbação com um brinquedo sexual é uma “ótima forma” de ligar a mente ao corpo durante a gravidez, “o que acabará também por ajudar no parto”, mas há cuidados que as grávidas devem ter.
“Perante a sensação de dor ou desconforto, é importante parar e, no caso da utilização de vibradores, deve optar-se por uma intensidade mais baixa, dado que o corpo poderá estar mais sensível”, diz a especialista, acrescentando que, “quer se trate de massajar o clítoris ou de penetração, o vibrador pode ser uma ferramenta muito útil para aceder a áreas mais difíceis de alcançar”.
White fala ainda da importância de limpar o dispositivo antes e depois de cada utilização, de forma a evitar a entrada de bactérias na vagina. Além disso, é também essencial evitar os lubrificantes oleosos, uma vez que podem alterar o equilíbrio do pH e aumentar as hipóteses de infeção.
Um lubrificante à base de água será a melhor alternativa, mas a especialista aconselha a consultar um profissional de saúde caso surjam dúvidas, “especialmente numa gravidez de alto risco”.
A altura da gravidez também deve ser tida em conta quando o assunto é sexo. “No primeiro trimestre, o corpo está a passar por grandes mudanças e a proteger o novo feto que cresce na barriga. As mulheres podem ter mais dificuldades durante este período devido às alterações hormonais, incluindo náuseas, cansaço e até mesmo tensão pélvica, o que pode muitas vezes levar a relações sexuais mais dolorosas”, explica a sexóloga.
Mas entre a 12ª e a 14ª semana os enjoos matinais terminam, normalmente, e torna-se “perfeitamente seguro” explorar o sexo durante este período, desde que haja autorização médica. “O segundo trimestre é geralmente a altura em que o corpo se começa a adaptar às mudanças e há um aumento do fluxo sanguíneo para os seios e para a pélvis, o que torna estes órgãos genitais ainda mais sensíveis ao toque, e, geralmente, verifica-se um aumento da libido e da lubrificação. O desejo caraterístico do terceiro trimestre pode muitas vezes implicar a penetração”, diz White.
Outra das principais preocupações em relação ao sexo durante a gravidez são as posições. A maioria, explica, é aceitável porque o bebé está protegido pelo líquido amniótico, mas durante o segundo trimestre deve haver o cuidado de não colocar peso sobre a barriga, evitando as posições em que a grávida fica deitada de barriga para baixo ou que o parceiro está deitado diretamente em cima da barriga. “As posições devem acomodar os movimentos, e por isso uma boa regra é permitir-se mudar de posição sempre que achar necessário, uma vez que o bebé se vai reposicionar”, aconselha ainda.