O projeto PAS GRAS: redução de riscos metabólicos, determinantes ambientais e comportamentais da obesidade em crianças, adolescentes e jovens adultos, liderado pelo investigador Paulo Oliveira, vice-presidente do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra, acaba de receber 9,5 milhões de euros do Horizonte Europa, para desenvolver, ao longo de cinco anos, estratégias de investigação para mudar o paradigma da prevenção e do tratamento da obesidade.
A investigação, que envolve entidades de oito países europeus, pretende esclarecer qual o papel do estilo de vida, saúde mental, fatores familiares, socioeconómicos e ambientais no desenvolvimento da obesidade e a sua interação com as características genéticas e metabólicas. Com base numa análise dos múltiplos parâmetros, a equipa de profissionais de diversas áreas irá elaborar uma avaliação personalizada e robusta do risco acrescido de sofrer de obesidade e complicações associadas. O estudo incidirá sobre uma população dos 3 aos 25 anos, assim como as suas famílias, com excesso de peso ou obesidade, uma realidade em crescimento que significa um enorme fardo a nível económico e social.
Nesse seguimento, será construído um algoritmo que vai prever qual a tendência que determinado indivíduo, assim como a sua família, tem para sofrer de obesidade. Depois de identificadas essas pessoas, há que perceber como funciona a comunicação entre o cérebro e os órgãos periféricos e como ela reage perante a obesidade e as suas complicações.
Paralelamente, o projeto estudará também os mecanismos celulares e moleculares do efeito protetor dos componentes nutricionais da dieta mediterrânica, mesmo de alguns menos comuns como cogumelos ou uma mistura de ervas libanesas, assim como da atividade física, fazendo testes no início e no final dos programas de ginástica a que irão sujeitar os jovens para avaliar se existem melhorias reais na composição corporal.
Paulo Oliveira esclarece que criarão ainda “uma campanha de literacia em saúde, sensibilizando a sociedade para os riscos da obesidade. Um dos materiais consistirá num livro de receitas baseado na dieta mediterrânica a ser distribuído em escolas, centros de saúde, ginásios e outros parceiros”.
Ao mesmo tempo, haverá ainda um estudo farmacológico, desenvolvido em laboratórios suecos, italianos e espanhóis, que se debruçará sobre dois grupos, um a quem administrarão medicação para a obesidade e outro que será sujeito à intervenção não farmacológica, com as diversas vertentes pensada por este projeto. “Vamos compará-los e também misturar mudanças de estilo de vida com medicação para perceber se produzem mais efeitos juntos ou separados”, revela o investigador.
“O PAS GRAS vai preencher lacunas críticas no diagnóstico e prognóstico da obesidade e proporcionar um conjunto de ferramentas inovadoras e medidas que possam contribuir para adotar e manter escolhas de estilo de vida que contrariem o excesso de peso e obesidade”, explica o bioquímico do Centro de Inovação em Biomedicina e Biotecnologia (CIBB).
Este mega projeto conta com a participação de 15 entidades internacionais, incluindo as portuguesas Associação de Ginástica do Centro, Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal, Instituto Pedro Nunes, Instituto Politécnico de Viana do Castelo e Universidade Nova de Lisboa. A estas, juntam-se o Conselho Nacional das Pesquisas, de Itália, a Fundação EURECAT, de Espanha, o Instituto Nencki de Biologia Experimental, da Polónia, o King’s College de Londres, do Reino Unido, a Mediagnost, da Alemanha, a Sociedade Europeia de Investigação Clínica, dos Países Baixos, a Universidade de Bari, em Itália, a Universidade de Martin Luther Halle-Wittenberg, na Alemanha, a Universidade de Uppsala, na Suécia, e a Universidade Técnica de Munique, na Alemanha.