O ator Tom Holland foi um dos mais recentes a fazê-lo, mas não o único: Ed Sheeran, Camila Cabello e Demi Lovato são algumas das celebridades que se retiraram das redes sociais, durante um período de tempo, para tratarem da sua saúde mental. “Vou fazer uma pausa das redes sociais, porque acho que o Instagram e o Twitter são demasiado estimulantes, esmagadores, estou preso e entro numa espiral [negativa] quando leio coisas sobre mim na Internet”, explicou o britânico de 26 anos, na altura em que tomou a decisão de abandonar a internet. “Ultimamente tem sido uma ferramenta muito prejudicial para o meu estado mental, por isso decidi dar um passo atrás e apagar a app”, afirmou, referindo-se ao Instagram.
Mas de que forma é que as redes sociais podem, de facto, ser prejudiciais à saúde mental? Andrea Moniz, psicóloga e diretora do Centro de Psicologia Dra. Andrea Moniz, em Cascais, define as redes sociais como um vício. “Podemos comparar a qualquer outro tipo de vício, como as drogas, o álcool, o café, os jogos a dinheiro. As redes sociais servem para tapar um vazio que a pessoa tem, é um escape, e por isso é por ali que as pessoas se sentem satisfeitas”, esclarece, em entrevista à VISÃO.
Já a psicóloga clínica Ana Paula Trindade, que trabalha na CLIPEDAM, na Amadora, Lisboa, explica que as redes sociais são uma forma de comunicação, e isso já é algo natural hoje em dia. Contudo, alerta que esta prática pode tornar-se problemática quando é usada em excesso. “O uso excessivo e descontrolado das redes sociais, em detrimento das relações sociais pode criar ou potenciar sérias consequências para a saúde mental, tais como ansiedade, depressão, irritabilidade, isolamento social, baixa auto estima, insatisfação pessoal, sensação de solidão, dependência, dificuldade em lidar com a frustração, déficit de atenção, instabilidade emocional e dificuldade em estabelecer relações na vida ‘real'”, afirma.
Na prática, quem está nesta condição “não larga o telemóvel, perde o controlo do tempo como chegar atrasado, deixar de sair para ficar no telemóvel e é a primeira coisa que faz quando acorda e a última antes de se ir deitar”, explica Andrea Moniz. Além disso, continua a especialista, essa pessoa “está sempre a controlar as imagens que partilhou, as frases que escreveu, de forma obsessiva, sempre acompanhada com o sentimento de inveja e insegurança”. “É esconder uma vida vazia e um vazio interior”, explica.
Com esta prática, “começam a ser frequentes as alterações de humor, a expressão de tristeza, ar de sofrimento, obsessão por problemas, isolamento social, pensamentos negativos, perda de interesse pela vida, aumento ou diminuição do apetite, insegurança em relação à aparência, distúrbios alimentares, perturbação do sono e insónia e dificuldade em lidar com a frustração”, completa ainda Ana Paula Trindade.
Os jovens são quem mais sofre
Para Andrea Moniz, é logo a partir dos 10 anos que se começam a observar este tipo de situações: “Vemos demasiados jovens presos nas redes sociais, e pode ir até aos jovens adultos. Algo a ter também em conta é a profissão que estes têm, se é ou não mais ligada à imagem. Ou necessidade de expor os próprios negócios”.
Já Ana Paula Trindade acredita que a faixa etária dos 16 aos 24 anos é aquela que mais sofre. “O desenvolvimento, a puberdade e as circunstâncias sociais torna-os mais vulneráveis. Esta faixa etária sofre mais porque está mais dependente da aprovação dos pares, da validação dos seus atributos, da afirmação das suas capacidades e da necessidade de reafirmar a identidade de pertença a um grupo”, analisa. Contudo, “mais relevante do que a faixa etária, é identificar o perfil psicológico dos jovens mais susceptíveis a certos efeitos das redes sociais”, defende a psicóloga clínica. “As redes sociais podem funcionar como um catalisador para quem já vive com problemas de ansiedade e depressão e encontre na internet ainda mais motivos para se sentir pressionado e desvalorizado”.
A especialista dá um exemplo: os jovens mais tímidos e introvertidos, são muitas vezes aqueles que se refugiam mais rapidamente no mundo online “para colmatar a sua ansiedade face aos relacionamentos sociais. Assim, ao evitar os relacionamentos sociais só vai aumentar a sua ansiedade social”.
A melhor forma de ajudar, garantem as especialistas, é procurar ajuda psicológica e encontrar mecanismos que ajudem a fugir a esta problemática. “No caso da psicoterapia, tenta-se perceber ao certo de que forma é que o vazio que a pessoa tem dentro de si a influenciou para se ter deixado cair nesta vivência tão exterior. É preciso perceber, inspecionar e tratar esse vazio que sente”, analisa Andrea Moniz, acrescentando que “meditação também é uma boa forma de ajudar a ultrapassar esta condição”. “Mas quando falo em meditação é parar, meter um temporizador e parar mesmo, respirar apenas, sem distrações. O silêncio ajuda a que o corpo respire também”, completa.
Para que qualquer um deste métodos funcione, explica a especialista, é preciso que se reconheça o problema. “É importante assumir que isto é um problema, mesmo que as pessoas pensem que não o seja, e haver efetivamente uma vontade de mudança”. E acrescenta: “É perceber ‘eu passo mais de metade do meu dia nas redes sociais e não posso’, tendo consciência que mais de duas horas é grave”. A abstinência é o melhor, em qualquer tipo de vicio, e é o que melhor funciona, garantem os estudos. Mas para os que querem começar de forma autónoma, colocar tempo limite nas aplicações é uma boa forma de começar, de acordo com as especialistas.