Que nos sentimos atraídos sexualmente “à primeira vista” por razões químicas já não é novidade para a maioria das pessoas. Está comprovado cientificamente que não é sobretudo por aquilo que vemos no outro que sentimos atração física, mas por causa das feromonas.
As feromonas são substâncias químicas com odor, produzidas e segregadas por glândulas exócrinas. Se soubermos que o nome vem do grego “fero”, que significa transportar, e de “hormona”, que significa evocar ou excitar, torna-se fácil de perceber que a atração por uma pessoa acontece quando reagimos aos sinais químicos que ela liberta.
Mas, e se forem também as feromonas a decidir quais são as pessoas com quem fazemos amizade? Foi esse o ponto de partida do estudo realizado pela equipa liderada por Inbal Ravreby, estudante de pós-graduação no laboratório do olfato do Instituto Weizmann de Ciência, em Israel, dirigido por Noam Sobel.
“Porque os humanos procuram amigos que são semelhantes a si próprios, colocámos a hipótese de eles poderem cheirar-se a si próprios e aos outros para, sub-conscientemente, preverem a semelhança do odor corporal, o que, por sua vez, pode promover a amizade”, lê-se a apresentação do estudo Há Química na Química Social, publicado recentemente no jornal Studies Advances.
Inbal Ravreby e os seus colegas descobriram que o odor corporal era mais semelhante do que se esperava em pares de amigos cuja amizade tinha “clicado” ao primeiro instante. Mais: quando colocaram pessoas que não se conheciam frente a frente, pedindo-lhes que interagissem de uma determinada maneira, concluíram que aquelas que disseram ter sentido uma ligação imediata tinham odores corporais semelhantes.
Há química na ‘química social’
Os investigadores começaram por escolher cuidadosamente vinte pares de amigos que disseram ter “clicado” ao primeiro instante. Para poderem recolher os seus odores corporais, pediram-lhes que fizessem aquilo que habitualmente se faz neste tipo de estudos: absterem-se de comer durante alguns dias alimentos como cebola e alho, e de usar desodorizante e after-shave. Só depois os voluntários tomaram banho com sabonete neutro e receberam t-shirts com as quais dormiram uma noite inteira.
As t-shirts destes pares de amigos começaram por ser analisadas por um nariz eletrónico (PEN3). A seguir, outros 25 voluntários também as cheiraram à procura de semelhanças olfativas. No final, descobriu-se que os odores dos pares de amigos eram mais semelhantes do que os de estranhos.
“É muito provável que, pelo menos, alguns deles estivessem a usar perfumes quando se conheceram”, disse Inbal Ravreby ao The New York Times, “mas isso não mascarou o odor que tinham em comum.”
Porém, sabendo que existem muitas razões para esses pares de amigos cheirarem de maneira semelhante – por exemplo, por terem o mesmo estilo de vida, frequentarem os mesmos restaurantes, etc. – os investigadores fizeram mais uma experiência.
Recrutaram 132 pessoas que não se conheciam e começaram por lhes pedir que “sujassem” uma t-shirt. Depois, convidaram-nos a irem ao laboratório fazer um pequeno jogo de espelho. Constituíram, então, pares aleatórios e puseram-nos frente a frente, a imitar os movimentos do outro. No final, os voluntários preencheram questionários em que se perguntava se tinham sentido alguma ligação com os novos “parceiros”.
Em 71% dos casos, as semelhanças dos seus odores previam que eles iam ter uma ligação positiva. Para os investigadores, isso significa que cheirar um odor semelhante ao nosso gera bons sentimentos. É apenas “um fator entre muitos”, nota Noam Sobel. Mas é um bom indicador de que há, de facto, química na chamada química social.