O longo e distintivo pescoço das girafas é um mistério para os investigadores. Logo a começar por uma dificuldade evidente: o coração destes animais tem de bombear o sangue dois metros para cima para chegar à cabeça.
A teoria até agora mais consensual é a de que o pescoço comprido seja a consequência de um processo evolutivo para permitir a estes mamíferos alcançar as folhas das árvores mais altas. Isto faz sentido, mas não é simples como parece, uma vez que várias investigações demonstraram que as girafas tendem a alimentar-se a partir de ramos mais baixos e que, em caso de seca, quando aumenta a competição por comida, as girafas mais altas não têm maior probabilidade de sobreviver.
Outra teoria, mas esta muito menos unânime, atribui aos pescoços longos um papel na competição pela atenção sexual das fêmeas, mas a ideia esbarra no facto de os machos não terem o pescoço maior do que o das fêmeas.

Jin Meng, um dos autores do estudo agora publicado na Science, partiu para esta investigação depois de descobrir um crânio com quatro vértebras, enterrado nas areias da Bacia de Junggar, no noroeste da China, em 1996. Nas duas décadas seguintes, Meng e a sua equipa descobriram mais de 70 fósseis da mesma espécie e não têm dúvidas de estar perante um parente até agora desconhecido da girafa, que terá vivido há cerca de 17 milhões de anos.
Discokeryx xiezhi é o nome que os investigadores atribuíram a esta espécie, inspirados numa criatura mítica com parecenças com um unicórnio. Estes girafoides teriam uma espécie de capacete rijo – uma estrutura densa com 5 centímetros de espessura e várias camadas de queratina -, otimizado para violentas lutas de cabeça, e, provavelmente, teria uma aparência mais semelhante à do okapi do que à da girafa.
A complexa estrutura do pescoço e da cabeça daquele animal mostra, acredita Rob Simmons, da Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul, que se encontrava “primorosamente adaptado para o combate entre machos”.
Para Shi-Qi Wang, paleontólogo da Academia Chinesa de Ciências, quando estes girafoides saíram das florestas para as pastagens, passaram a lutar ainda de forma mais feroz com os seus pescoços, acabando por provocar o seu alongamento. Esta teoria, no entanto, não descarta o papel da necessidade de procurar alimento nas partes mais altas das árvores no crescimento do pescoço da girafa.