O recurso às tecnologias de informação e comunicação em contexto laboral quebra a fronteira entre vida profissional e vida pessoal e familiar, na opinião de 52% dos trabalhadores inquiridos num estudo da Nova School of Business and Economics (Nova SBE), da Universidade Nova da Lisboa. Uma equipa de investigadores do Observatório de Liderança e Bem Estar da Nova SBE propôs-se a avaliar o chamado tecnostresse – o stresse causado por uma incapacidade de adaptação e mau uso da tecnologia – e concluiu também que parte substancial dos inquiridos “sentem níveis elevados de sobrecarga” pelo mesmo motivo, com 47% a reconhecer que teve de “mudar os hábitos de trabalho para se adaptar às tecnologias móveis”.
Os mais de quatro mil questionários online foram realizados em contexto de pandemia, entre fevereiro de 2020 e outubro de 2021, e por isso coincidindo com períodos de confinamento e de teletrabalho mais intensivo. Os investigadores Filipa Castanheira, Pedro Neves e Inês Dias da Silva elaboraram cinco questões para medir a tecno-sobrecarga e quatro para avaliar tecno-invasão, cujas respostas oscilavam em escalas de concordância de um a cinco, ou seja, entre o “discordo totalmente” e o “concordo totalmente”. Como ponto de partida, as certezas de que “o uso destas múltiplas ferramentas e diferentes fontes de informação podem levar a uma sobrecarga de informação e de trabalho”, por um lado, e de que “a possibilidade de trabalhar de qualquer lugar e em qualquer hora graças aos dispositivos móveis permite a invasão do trabalho no espaço pessoal e vice-versa”, por outro.
No que respeita aos resultados sobre tecno-invasão – ou sensação de estar sempre contactável a todo o momento e em qualquer lugar -, por causa das tecnologias móveis, 42% dos inquiridos dizem que passam menos tempo com a família, 48% respondem que mantêm contacto com o trabalho durante as férias e 52% garantem que sentem a vida pessoal a ser invadida.
Já no que toca à tecno-sobrecarga – sensação de estar obrigado a trabalhar mais e mais rápido, excedendo os limites e comprometendo o bem-estar do trabalhar -, as tecnologias móveis são responsabilizadas por 34% dos inquiridos por terem de trabalhar mais depressa, 37% indicam que a sua crescente complexidade ditou um aumento da carga de trabalho e 47% asseguram que tiveram de mudar hábitos de trabalho.
O estudo concluiu ainda que os homens apresentam um nível de tecnostresse superior ao das mulheres, tanto em matéria de tecno-sobrecarga como de tecno-invasão. Em relação a diferenças entre faixas etárias, os mais jovens (menos de 24 anos) sentem uma sobrecarga menor quando comparados com as gerações mais velhas, mas no campo da invasão da vida pessoal não se verificam diferenças geracionais “estatisticamente significativas”.
Respondendo à missão do Observatório de Liderança e Bem Estar da Nova SBE de “gerar recomendações baseadas na evidência empírica no sentido de melhorar a saúde e o bem-estar no contexto do trabalho”, os investigadores sugerem a criação de legislação capaz de mitigar a sobrecarga e a invasão no uso da tecnologia no trabalho, formação para as chefias no sentido de valorizarem o impacto negativo de culturas sempre conetadas e fomentar métodos de gestão individual para facilitar uma clara barreira entre a atividade profissional e a vida pessoal e familiar.